A Roberta que desembarcou aos 20 anos em Santa Cruz do Sul talvez não reconhecesse a Roberta Corrêa Pereira que hoje, com 45 anos, é uma das principais lideranças do município. Nascida em Cachoeira do Sul, ela veio em 1996 para Santa Cruz a fim de ingressar no ensino superior. Mal sabia que o curso escolhido – Jornalismo – não definiria sua carreira. Os passos que foi dando a partir dali, sim.
Também conhecida como a “Roberta do Sesc”, ela é fortemente ligada à área cultural. Foi presidente da Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul e, como diretora da unidade operacional do Serviço Social do Comércio (Sesc), em parceria com outras instituições, coordena importantes eventos, como a Feira do Livro, o Festival Santa Cruz de Cinema e o Bailinho de Carnaval da Borges.
Contudo, foi em 2021 que recebeu o maior dos desafios, como ela mesma define: presidir a Oktoberfest. Em plena pandemia, teve de reinventar a realização da maior festa germânica do Estado. O sucesso foi tanto, que a 37ª Oktoberfest terá, novamente, Roberta como líder – papel que, verdade seja dita, não é difícil para ela desempenhar.
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Agregadora de pessoas
Logo que veio para Santa Cruz para estudar Jornalismo, Roberta trabalhou como babá e também em uma loja até conseguir um emprego na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), como secretária no Departamento de Economia, o que lhe garantiu um desconto na mensalidade. Depois de formada, passou a trabalhar na assessoria de projetos especiais, setor ligado à reitoria, momento em que começou a lidar mais diretamente com a cultura. “Eu trabalhava formatando projetos culturais e captando recursos com empresas e pessoas físicas para viabilizar os projetos, como a biblioteca e a construção do memorial da Unisc.”
Em meio a isso, de 2000 a 2004, foi presidente da Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul. “Acho que foi ali que estreitei ainda mais os meus laços com a comunidade. Além de ser uma associação que interage bastante, foi o que me abriu as portas no Sesc.” Também formada no MBA em Marketing Estratégico, Roberta relata que entrou no Sesc no final de 2004. “A vaga era para ser coordenadora da unidade do Sesc, hoje sou diretora de unidade operacional. Coordeno todas áreas, não só aqui mas em mais seis cidades além de Santa Cruz.”
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Envolvida em inúmeras ações, como a Feira do Livro e o Festival Santa Cruz de Cinema, Roberta acredita que o gosto por cultura começou ainda na infância, quando participava de atividades na igreja, em Cachoeira do Sul. “Eu lembro que eu lia na missa, e para isso tinha que subir no púlpito. Eu acho que ali já fui perdendo o medo de falar em público”, conta. Das diversas fragmentações da cultura, todas chamam a atenção da jornalista, com destaque para literatura, música e cinema. “O Sesc abre esse leque em todas as linguagens artísticas. Temos a Feira do Livro aqui de Santa Cruz, que é uma das maiores do Estado, e o Festival Santa Cruz de Cinema, que está se tornando um dos maiores do Estado e até mesmo do Brasil no formato de curta-metragem.”
Para ela, todos são projetos importantes, mas faz questão de mencionar que nenhum trabalho é feito com apenas um par de mãos. “É uma característica minha essa coisa de chamar as pessoas, de reunir através dos projetos, porque ninguém faz nada sozinho. Tem essa fórmula de sucesso que eu acho que é agregar pessoas ao redor dos projetos para que eles realmente aconteçam”, enfatiza.
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Tempo de qualidade
Em meio ao turbilhão de emoções e trabalho, há tempo também para a família. Roberta é mãe da pequena Nina Pereira de Freitas, de 8 anos. “Ela nasceu já nessa minha vida, eu já estava no Sesc há muito tempo. É uma criança que nasceu no meio da cultura, dos eventos, da música, o pai dela é músico, então ela é uma criança que vai muito para esse lado da música.”
Por outra via, conforme Roberta, Nina entende que tem uma mãe com muitos compromissos e que corre bastante. “Ela me cobra essa presença, mas eu acredito muito no tempo de qualidade, não só a quantidade que a gente passa com a criança. Então, eu tento me dedicar ao máximo quando estou com ela.”
No ano passado, Roberta se separou do pai de Nina e, atualmente, a família convive com uma adequação à nova realidade. “Agora que os pais se separaram, ela passa um tempo comigo, um tempo com o pai, estamos em um processo de adaptação.”
Duas vezes presidente
Desde 2005, Roberta Pereira já participa da coordenação executiva da Oktoberfest. Em 2020, foi convidada para ser vice-presidente, porém, a festa não ocorreu devido à pandemia. Em 2021, finalmente, foi escolhida como presidente. Contudo, à época, teve o desafio de realizar o evento em plena pandemia.
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“Eu brinco que, em um primeiro momento, achei que era um presente de grego. Mas, como eu adoro desafios, pensei: ‘Vou reunir pessoas que também acreditam nesse poder que a gente tem de recriar, fazer coisas diferentes em momentos que tu não imagina’. O convite surgiu em junho do ano passado, tínhamos pouco tempo para fazer um trabalho, que foi muito focado em protocolos. Cada vez mais, estava sendo flexibilizado, mas a Oktober foi o primeiro grande evento nesse formato a voltar.”
Ao relembrar o trabalho executado naquela edição da festa, ela não hesita em afirmar: “Foi o maior desafio da minha carreira até hoje.” Isso porque, 15 dias depois do fim da Oktober de 2021, a diretoria ainda ficou monitorando o possível aumento de casos de Covid. “Tínhamos aquela responsabilidade, exigimos vacinação, fizemos o máximo possível, foi um voto de confiança.”
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A resiliência demonstrada na presidência da 36ª edição fez com que o nome de Roberta fosse novamente apontado para liderar a festa do próximo outubro. Agora, para ela, o trabalho será ainda maior, pois haverá mais público, horários estendidos e grandes shows. “Estamos falando de uma Oktober que vai esperar 400 mil visitantes, é outro tipo de preocupação. É claro que de novo estou me cercando de pessoas. Eu dou conta porque eu tenho uma equipe maravilhosa no Sesc que toca o trabalho, porque a Oktober é um trabalho voluntário.”
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Mesmo com a correria, é com esse estilo de vida que Roberta tem identificação. “Esse é o ritmo de vida de que eu gosto. Quando começou a pandemia e parou tudo, eu quase entrei em depressão; afinal, mudou praticamente todo o meu ritmo de vida. É assim que eu consigo dar conta, é assim que eu gosto da minha vida; então, a Oktober está sendo um presente”, completa.
Para 2022, Roberta quer uma Oktober cada vez mais diversificada. “Acho que a festa tem todo um compromisso de tradição, de mostrar a importância do povo germânico. Mas também tem que olhar para o que aconteceu nesse tempo. A cidade tem outras culturas que têm de ser integradas. No ano passado, a gente já trouxe alguns elementos, e neste ano vamos trazer de novo, são novas linguagens. Não estou anulando nada, estou mostrando o que é o recorte da nossa cidade, que tem outras inúmeras linguagens que podem interagir com a cultura germânica.”
Sonho realizado em 2019
O grande sonho de Roberta Pereira foi realizado em 2019: ser cidadã santa-cruzense. “Ser cidadã era realmente algo que me faltava. Eu me sinto muito mais santa-cruzense do que cachoeirense. Não que eu renegue minha origem, mas eu já morava aqui há bastante tempo, me dedicava à cidade, tive minha filha aqui, tudo aqui. Por isso, eu sempre quis ser cidadã e, no dia em que aconteceu, foi muito emocionante.”
Outros sonhos, hoje, são mais no sentido de ver a filha crescer com saúde e feliz. Quando faz uma reflexão e olha para o passado, Roberta se sente alegre em ver tudo o que aconteceu desde que chegou para ficar, em 1996. “Eu não tinha nem sonhado com isso tudo, mas hoje eu olho para trás e penso que é uma trajetória legal. É gratificante ver que eu construí algo ao redor do meu trabalho, daquilo em que acredito, que passa pelo meu jeito de ser, de me dar bem com todo mundo, de semear amigos, de inspirar as pessoas”, finaliza.
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