A inalação de partículas de diferentes natureza pode vir a causar danos capazes de comprometer o adequado funcionamento da respiração. O presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, Sérgio Amantéa, alerta para os altos riscos da prática do chamado “desafio euphoria”, em que jovens têm inalado o pó resultado da raspagem de ressecado de corretivo escolar, como se fizessem uso de cocaína.
“O trato respiratório é uma estrutura complexa que estabelece uma grande interface com o meio externo. Possui uma função condutora de gases que será a responsável pelo direcionamento do oxigênio até as unidades alveolares responsáveis pela oxigenação do sangue. Assim, necessita de mecanismos de proteção para garantir a remoção de partículas inaladas e agentes infecciosos, que constantemente atingem sua camada mucosa de revestimento (desde as fossas nasais até os bronquíolos). Inflamação pode ser o resultado da agressão a essa mucosa, seja por agentes físicos ou químicos, de causas infecciosas ou alérgicas”, explica.
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Quais são os males à saúde ao inalar essa sustância?
A magnitude dependerá das características do inalado e suas propriedades físico-químicas, da quantidade de substância inalada e a periodicidade do ato. Supõe-se que o dano ou a sua extensão possam ser maiores, quanto maior for a dose ou a frequência de uso.
Composição química:
O corretivo é feito a base de água (função solvente), etanol (função secante) e contém substâncias tóxicas como o dióxido de titânio (cor branca a tintas), polímeros e dispersantes (manter consistência e homogeneização da mistura).
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Estudos em animais com dióxido de titânio demonstram efeitos tóxicos sobre várias linhagens de células (nervosas, pulmonares e sanguíneas). Em humanos seus efeitos ainda são desconhecidos. Seus cristais têm sido encontrados depositados com uma maior frequência em pâncreas de pacientes diabéticos.
Ação química direta da inalação do corretivo pode:
- Comprometer mecanismos de defesa e predispor infecções locais (rinosinusites, pneumonias), além de sangramento e ressecamento da cavidade nasal.
- Ativar respostas imunes: promover crises ou agravar processos inflamatórios relacionados a asma brônquica ou rinite alérgica
- Diminuir a eficiência do transporte e da troca gasosa: pneumonites químicas
- Ação do hábito pode: estimular o consumo de drogas e substâncias ilícitas análogas ao referido “desafio”.
- Ação sobre a mucosa pode: estimular a absorção sistêmica (sanguínea) pelo trato respiratório e secundariamente manifestar sintomas associados a intoxicação exógena.
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Podem ter sequelas permanentes?
Não existem dados de longo prazo para estabelecer esta resposta com segurança. Entretanto, a potencialidade do dano agudo existe e algumas destas manifestações agudas podem cursar com sequelas dependendo da intensidade do dano. A própria indução gerada pelo hábito, como já referido, pode influenciar comportamentos futuros indesejáveis com graves sequelas.
Em uma situação crônica, qual tipo de tratamento realizado?
Não está se falando de uma droga de uso ilícito, de dependência química ou drogadição. Dentro do presente contexto fala-se de um desvio de comportamento. Um estímulo ao uso de drogas por parte dos atores do desafio. “No meu ponto de vista a prevenção passa por informação. Sob o ponto de vista de saúde e tratamento, nossas presentes ações podem ser necessárias sobre o efeito de agressão as mucosas do trato respiratório e a potencialidade para manifestações de intoxicações. Neste cenário, dependendo da manifestação, manobras de lavagem nasal, uso de antimicrobianos ou antinflamatórios podem ser indicados dependendo da clínica apresentada”, diz o pediatra Sérgio Amantéa.
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