Sábado. Ela levanta como nos demais dias. Antes de sair para o trabalho profissional, prepara o café para as três: a mãe, a filha e ela. A mesa instalada na peça que integra sala e cozinha é cuidadosamente preparada. Pratinhos, xícaras, talheres, guardanapos. Pão, geleias. Café, leite e bolo. Mesa posta, hora de buscar a mãe, próxima dos 80 anos. A filha, hoje sem aula, pode dormir um pouco mais. Vai tomar seu café com a cuidadora que virá logo a seguir.
Reconduzida a seu quarto, a mãe estende um “soninho” reconfortado pelo café prazeroso. Ela, agora quase sem tempo para ver se tudo está em ordem, toma o rumo do seu emprego. Atravessa a cidade de sul a norte. Conhece os atalhos. Dirige com segurança. Um pouco antes das 8 horas chega ao local do serviço, onde atua como gerente. Distribui as tarefas. Preenche lacunas e resolve imprevistos. Manhã que voa.
Nos outros dias, voltaria para casa só à tardinha. Hoje não. Sorri com elegância. Sabe que cumpriu seu dever da semana, do mês e dos anos. Já faz tempo que merece a condição de gestora. Quase 12 horas. Certifica-se de que tudo está a contento. Irá almoçar com os seus. Vai abraçar a filha e a mãe. Não deixará de afagar o cachorro que, por certo, estará esperando junto ao portão.
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Já em casa, depois do almoço, das novidades contadas, dos problemas apresentados, ouvido o noticiário, o pátio pede zelo. Uma amoreira ergue-se vigorosa. Logo vai florescer. Ela posiciona os ramos espinhosos. Amarra aqui, suspende ali. Sabe que das flores surgirão frutinhas gratas pelo cuidado. Afofa a terra dos pequenos canteiros de verduras. Ajeita alguns tijolos caídos sobre a grama. Rabisca o olho para a sala. Tudo está bem. A mãe, esquecida dos tempos e feitos, brinca com o cachorro. A filha, entre uma página e outra do livro que lê, a observa carinhosamente. Como a admira! Reconhece sua luta diária, o zelo dedicado a ela e sua avó, a atenção continuada a tudo o que envolve o dia a dia. Quase não compreende como uma pessoa, prendada como sua mãe, consegue ser tão amorosa em meio a tantas dificuldades. Larga o livro. Vai até a mãe e a abraça. As duas vertem gotas no jardim.
O dia se faz curto. Cabem ainda rápidas conversas com as gentis vizinhas. A janta, melhorada em relação aos demais dias da semana, demora-se na sobremesa. Hoje um pudim. Daqueles que ninguém nega. Consistente, caramelado, de furinhos mágicos. Impossível não repetir. Aos poucos o sono acalenta a casa. A filha adormece em seus braços. A mãe recolhera-se em paz. Jeitosa, sem acordar a filha, se dá o prazer de um cálice de vinho. Afinal, amanhã será o dia da trabalhadora.
Antes de adormecer, ela, a Betina, reza para que todes possam ter dignas oportunidades de trabalho.
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