Foi no início da década de 1990, com a desintegração da União Soviética, que o cientista político Francis Fukuyama, dos EUA, publicou o seu famoso livro sobre o “fim da História”. A tese era de que, com a derrota do comunismo na Guerra Fria, as chamadas democracias liberais não tinham mais “nenhum competidor ideológico importante”. O jogo havia acabado. Surgia, assim, o mundo da globalização capitalista. Na visão otimista do autor, um mundo que acabaria com a eclosão de guerras nos moldes do século 20, porque estaria unido pela mesma concepção liberal – segundo ele, o auge da evolução sociocultural humana.
“A melhor solução para o problema humano é a democracia liberal”, escreveu Fukuyama. “O mundo pós-histórico é aquele em que o desejo de autoconservação confortável foi elevado acima do desejo de arriscar a própria vida numa batalha por puro prestígio, e em que o reconhecimento universal e racional tomou o lugar da luta pela dominação.” Ou seja, nada mais de países invadindo seus vizinhos, nada mais de corridas armamentistas tendo em vista a ultrapassada “dominação”.
Obviamente, não faltaram críticas e demonstrações da fragilidade dessa utopia liberal. O mundo não se tornou melhor e mais justo, e bastou uma década para acontecerem os atentados do 11 de Setembro. A essa altura, a tese do “choque de civilizações”, de Samuel Huntington, já era bem mais popular. Hoje, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, temos o maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra. Mas Fukuyama continua otimista: ele acha que isso é uma crise passageira e, no fim, a democracia ocidental vai triunfar.
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A democracia ainda é melhor do que o despotismo (de qualquer cor política), mas quem pode decretar que a História teve ou terá fim? Os ideólogos dos grandes regimes totalitários, como o nazismo e o comunismo soviético, imaginavam a mesma coisa: que o processo histórico culminaria e se encerraria com eles. E grupos de inspiração fascista continuam ativos pelo mundo, alguns ganhando cada vez mais poder.
Nada está determinado. Ainda fico com a lucidez de Hannah Arendt, para quem a ideia de “fim da História” nem fazia sentido. “Nenhuma ideologia pode suportar a imprevisibilidade que advém do fato de que os homens são criativos, de que podem produzir algo novo que ninguém jamais produziu”, escreveu ela no clássico Origens do totalitarismo. Então, podemos até querer que o mundo diante de nós dure para sempre. Mas não vai.
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