“Ele é a cara do pai. No domingo passado, o cabelo dele também estava igual como é o cabelo do Tiago”, disse Ana Paula Borstmann sobre o filho de Tiago Aliandro Kohlrausch, que completou 4 anos neste sábado, 9. Ela fala no presente sobre seu ex-companheiro, como se eles ainda estivessem planejando as férias a bordo da Honda Twister vermelha do casal para dezembro de 2019. Mas o tempo para ela parou antes disso.
“Eu durmo e acordo pensando no dia 23 de setembro de 2019, quando tudo aconteceu. É uma lembrança que está presente a todo momento”. Naquela noite, às 19h30, Tiago, então com 30 anos, foi assassinado com quatro tiros, um na cabeça e outros três no peito, dos 12 efetuados por matadores de aluguel que portavam pistolas calibre 380.
Com hemorragia interna, Kohlrausch acabou falecendo na casa onde os dois moravam, na Rua Walder Rude Kipper, no Loteamento Motocross, Bairro Arroio Grande. Ana Paula, hoje com 29 anos, volta seus pensamentos agora para a próxima quarta-feira, 13 de abril de 2022, quando os últimos dois acusados de participação no crime serão julgados em júri popular no Fórum de Santa Cruz do Sul. O caso, que ganhou ampla repercussão, foi decifrado de forma completa em uma rápida investigação da Polícia Civil.
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Em um inquérito com mais de 350 páginas, assinado pelo delegado Alessander Zucuni Garcia, a 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP) indiciou como mandantes do crime, por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima), a jovem Patrícia D’Ávila da Luz, de 22 anos, mãe do único filho de Tiago, de 1 ano e 5 meses na época do fato, e seu então companheiro Renato Andrade Ferreira, de 34 anos, padrasto da criança.
Gabriel Nascimento da Luz, de 53 anos, tio de Patrícia, era o dono do veículo usado pelos matadores contratados que foram à casa da vítima. Este responde por homicídio duplamente qualificado. A motivação do crime, segundo a investigação da Polícia Civil, era afastar Tiago do filho. Os dois homens acusados serão julgados nesta quarta-feira, 13 – no primeiro júri do caso, em 15 de setembro do ano passado, Patrícia foi condenada a 16 anos.
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Renato, que reside em Porto Alegre, será defendido pela advogada criminalista Tatiana Borsa, conhecida por defender o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, no julgamento do Caso Kiss. Já Gabriel, morador de Santa Cruz, será representado pelo defensor público Arnaldo França Quaresma Júnior. A acusação será feita pelo autor da denúncia, o promotor criminal Flávio Eduardo de Lima Passos. O júri, que começará às 9h30, será presidio pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse, da 1ª Vara Criminal.
“Quero os culpados pela morte do meu filho presos”
Assim como no primeiro júri, Dirceu Aliandro Kohlrausch, de 56 anos, pai de Tiago, foi intimado a depor como informante. Às vésperas do capítulo final de uma história dramática, ele conversou com a Gazeta do Sul. Na sua primeira entrevista falando sobre o caso, não conseguiu conter as lágrimas ao lembrar do filho. E a resposta foi rápida ao ser perguntado sobre o que espera do julgamento: “Quero que eles sejam condenados. Estou em uma angústia. Quero os culpados pela morte do meu filho presos. Este será o último capítulo de uma história que não termina. Eu vou morrer com isso na cabeça. Eles destruíram famílias”, disse ele.
“No último júri, o promotor tinha razão. Tentaram colocar a culpa no Renato. Agora, vão tentar colocar a culpa na Patrícia. Tanto eles como o Gabriel sabiam de tudo e precisam pagar pelo que fizeram”, complementou o pai da vítima. Dirceu mora hoje no mesmo endereço onde o filho residia quando foi assassinado. Uma ida com o filho até Vera Cruz, na tarde do crime, continua na mente dele.
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“Aqueles foram os nossos últimos momentos. Fomos comprar um carro antigo. Quando voltamos, deixamos o veículo na casa dele, tomei um chimarrão e fui embora. Quando eu estava já perto do Excelsior, me ligaram falando dessa tragédia toda”. Hoje em dia, Dirceu revela que nem consegue mais mexer com veículos, pelas lembranças que ficaram do filho.
“Nunca mais lidei com isso. Sempre me pego lembrando dele, da relação muito boa que tínhamos. A gente fica pensando que se pudesse voltar no tempo, poderia ter sido diferente”, disse. Ele lembra de ter visto um veículo diferente próximo da casa do filho, mas não havia relacionado com algo suspeito.
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“Eu via aquele carro parado, observando a movimentação. Hoje, penso que devia ter pego a camionete e enfiado com toda força contra essa gente. Meu filho poderia ainda estar aí”. A emoção ao falar de Tiago se estende ao comentar sobre a relação com o neto. De 15 em 15 dias ele pega a criança com a avó paterna. Conforme o avô, pelas desavenças entre as famílias, no aniversário de 1 ano da criança – o único com Tiago ainda vivo – o pai não pôde participar. “Ele diz que eu sou o ‘vôzinho’ dele. Neste sábado, fez 4 anos. Infelizmente, o Tiago não conseguiu fazer uma festinha para ele”.
Uma estrela no céu
Para Ana Paula Borstmann, a perda do companheiro é sentida todos os dias. “É uma lembrança sempre presente. Durmo, acordo e isso está sempre comigo. Eu imaginava que depois que a Patrícia fosse condenada, isso fosse amenizar, mas não. O pensamento é que foi um culpado a menos. A gente pensa que é tão pouco. Com 16 anos, se não antes, ela vai sair jovem ainda e terá uma vida toda. E o Tiago, que nunca fez nada pra ninguém, não volta nunca mais”.
Ana Paula confirmou que estará presente ao tribunal nesta quarta-feira, 13. “Espero que a justiça seja feita e, mais do que nunca, quero que eles sejam condenados”. Ela revela que a relação com o filho de Tiago é excelente. “Ele não tem muita ideia do que aconteceu, mas está começando a perceber e perguntar as coisas. Um dia, mostrei uma estrela no céu pra ele, e disse que era o papai. Eu sempre imaginei que o dia que ele me perguntasse sobre isso, eu falaria tudo, mas não tem como. Ele é uma criança. Vai chegar uma hora que, por conta, vai entender tudo o que fizeram com o pai dele”.
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