Para quem ainda não viu Roma, do diretor mexicano Alfonso Cuarón, uma grande oportunidade apresenta-se agora. O filme é o cartaz desta terça-feira, 10, da sessão especial da Amigos do Cinema de Santa Cruz do Sul e segue o ciclo cujo objetivo é homenagear as mulheres no mês em que há um dia, o 8, dedicado para elas. A exibição inicia-se às 20 horas, na sede do Sindibancários (na Rua Sete de Setembro, 489, bem pertinho da Corsan), com entrada franca. Quem não conhece a história deve ficar se perguntando o que Roma tem a ver com as mulheres.
Pois bem, Roma, o filme, uma das primeiras produções da Netflix, não tem nenhuma vinculação com a capital italiana. É o bairro de classe média da Cidade do México onde Cuarón cresceu. Na época de seu lançamento, em 2018, em conversa pelo telefone com a reportagem da Agência Estado, o diretor admitiu que era o seu filme mais pessoal. “Tem muito de autobiográfico também, e eu tenho a impressão de que toda a minha vida e carreira foi uma preparação para chegar aqui. A partir de um momento, dei-me conta de que tinha de contar essa história, liberar-me dos meus fantasmas. Mas tanto quanto o filme era necessário para mim, eu duvidava que pudesse interessar aos outros. Cheguei a comentar com meu irmão que muito provavelmente ninguém iria vê-lo.”
Aconteceu exatamente o contrário. Vencedor de dois Globos de Ouro e um Leão de Ouro no Festival de Veneza, Roma foi candidato a receber o Oscar de Melhor Filme, e acabou levando as estatuetas de melhor direção e melhor filme estrangeiro.
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Cuarón disse que realmente foi uma grande surpresa, uma catarse, receber aquela ovação em Veneza. Logo em seguida, o Leão de Ouro. E, posteriormente, os Oscars. “Meu filme mais pessoal tocou as pessoas, tornou-se universal, e isso não tem preço. É uma coisa que me emociona profundamente.”
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Mulheres
Num sentido mais amplo, é um filme dedicado às mulheres que forjaram o homem que Cuarón se tornou. Sendo um projeto tão pessoal, ele abriu mão de muitas parcerias e colaborações. “Senti que tinha de escrever sozinho, dirigir, manejar a câmera, até montar. Pode parecer uma coisa megalomaníaca, mas como estou operando no registro das lembranças, da memória, senti que não podia dividir isso com ninguém. Era como eu via, como me lembrava das coisas. Decidi que tinha de filmar exatamente nos locais, e a Net-flix, que se tornou parceira desde a primeira hora, apoiou minha decisão. O problema é que, quando chegavam aos locais, eles haviam mudado muito, ou nem existiam. Tive de reconstruí-los, e a Netflix continuou parceira.”
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O filme recria a vida da família Cuarón no começo dos anos 1970 pelo olhar da doméstica Cléo, interpretada pela não profissional Yalitza Aparicio, de 24 anos. Professora numa escola de Tlaxiaco, em Oaxaca, ela foi atraída pelo anúncio de que Cuarón buscava uma atriz nativa para o papel de protagonista num filme. “Alfonso queria saber da minha disponibilidade. Era total, porque estava desempregada e precisava de trabalho. Foi assim que começou. Hoje eu sei que ele ganhou minha confiança, a de minha família, e virou um amigo.” O filme também reconstitui um massacre ocorrido na época, porque Cuarón, por meio da história familiar, conta a história do México.