Antônio da Silva Jardim (1860-1891) era um dos mais ferrenhos defensores da proclamação da República no Brasil. O advogado e jornalista, conhecido pela inteligência aguda e eloquência, nunca teve medo da polêmica e cresceu meteoricamente no âmbito político brasileiro. Na luta incansável contra o absolutismo e a escravidão, chegou a cogitar um ataque ao imperador e alguns diziam que os discursos teriam inspirado o atentado de julho de 1889 contra Dom Pedro II. Após a emancipação dos escravos, em maio de 1888, Antônio queria que o governo brasileiro fizesse um pedido oficial de desculpas ao mundo por não tê-lo feito antes. Duas cidades fluminenses levam o nome dele: Silva Jardim, onde nasceu, e Jardinópolis.
Deposta a monarquia, o chamado apóstolo da república foi descartado pelos marechais que tomaram o poder e ficou inconformado com a maneira que tudo ocorreu, em um golpe dos quartéis sem apoio popular e com a implantação de uma ditadura militar. Desiludido, partiu em 1891 para uma viagem de descanso e estudos na Europa. Meses depois, escreveu ao pai que, a pedido de milhares de brasileiros que o queriam no país, decidira voltar, mas não sem antes realizar outro sonho que acalentava tanto quanto o de ver uma república democrática no Brasil: conhecer Pompeia e escalar o Monte Vesúvio.
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Retornamos para uma manhã de outubro do ano 79 na costa italiana, quando uma mortal nuvem de cinza vulcânica cobriu as cidades romanas de Herculano e Pompeia, pegando de surpresa os prósperos cidadãos romanos. Em poucas horas, a erupção selou no tempo palácios, mansões luxuosamente decoradas, obras de arte e corpos humanos moldados sob uma camada de até seis metros de cinzas endurecidas. Essa tumba natural de prédios e pessoas ficou intocada até 1748, quando arqueólogos passaram a desencavar aquela fotografia preservada do cotidiano romano. A cidade e as vítimas, de alguma forma preservadas desde a tragédia, proporcionam uma espécie de viagem no tempo e Pompeia, a 20 quilômetros de Nápoles, se tornou parada obrigatória para viajantes que passam pela região.
O Fórum (centro cívico e religioso da cidade), as colunas dos templos, os afrescos, as esculturas e os espetaculares mosaicos, como o da conquista da Pérsia por Alexandre Magno, dão uma ideia da sofisticação artística existente na época. Uma das atrações mais procuradas pelos mais de 2 milhões de turistas que visitam Pompeia a cada ano é o Lupanar, o prostíbulo da cidade, que talvez já fosse um endereço popular há 2 mil anos. Hoje, porém, as filas de visitantes vêm somente em busca dos belos e vívidos afrescos das paredes.
Expandida pelos gregos a partir de 740 a.C., o local se tornou colônia romana a partir de 80 a.C., passando a ser cobiçado pela aristocracia pela aprazível localização litorânea. O mais antigo anfiteatro do mundo ainda intacto (80 a.C.) tinha capacidade para 12 mil espectadores, em uma cidade de 20 mil habitantes. Com o decaimento natural, as cerca de 1,2 mil pessoas que pereceram no desastre formaram vazios na cinza endurecida, que os arqueólogos usaram como moldes. Hoje vemos corpos preservados em gesso, muitos em posição de fuga ou proteção. O vulcão Vesúvio, que teve a última erupção em 1944, é considerado ativo e cientistas alertam que a próxima manifestação pode acontecer a qualquer momento. Para turistas mais arrojados, ônibus percorrem regularmente os oito quilômetros que separam Pompeia e Herculano das cercanias da cratera vulcânica. A fúria de magma e cinzas do Vesúvio ceifou milhares de vidas, além das que pereceram em arriscadas escaladas ao topo do ativo vulcão.
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No primeiro dia de julho de 1891, o brasileiro Silva Jardim está em Pompeia para conhecer a cidade e realizar o sonho de ver o Vesúvio de perto. No momento em que chega próximo à borda da cratera, o solo sacode em um tremor sísmico. Uma fenda se abre e o jovem de 30 anos, que repetia aos amigos que “a morte é um acidente da vida”, é tragado instantaneamente pelo vulcão. Era mais um dos sonhos que acabava diferente do desejado; este de forma derradeira. O Vesúvio se eternizou também como sepultura de Antônio da Silva Jardim, o paladino esquecido por uma mal proclamada república.
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