Confirmada na semana passada, a transferência da família Moraes do PTB para o PL vai provocar uma reacomodação das forças políticas em todo o Vale do Rio Pardo. Um dos partidos mais representativos da região há vários anos, o PTB tende a minguar até a próxima eleição municipal. Em contrapartida, o PL deve aumentar significativamente a relevância. A Gazeta do Sul apurou a situação nos principais redutos petebistas em âmbito regional. A sigla está atualmente à frente de duas prefeituras (Herveiras e Pantano Grande) e elegeu, em 2020, 32 vereadores, estatura muito superior à do PL, que possui somente dois vereadores, um prefeito (Boqueirão do Leão) e dois vice-prefeitos.
Na prática, o movimento dos Moraes, que foram os principais articuladores da legenda na região nas últimas três décadas, não vem encontrando maiores resistências nas bases. Em vários municípios, a tendência é de que os quadros petebistas migrem em massa para o PL, modificando sensivelmente as cenas políticas locais. Em Candelária, por exemplo, onde o PTB tem três cadeiras na Câmara, o PL nem sequer existe formalmente, segundo o atual dirigente petebista, Jorge Feistler. “Criar um partido não é fácil, é preciso ter uma certa credibilidade, coisa que os Moraes nos passam”, observa.
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Em Venâncio Aires, o apoio à decisão dos Moraes é “unânime”, diz o presidente Arnildo Câmara. Conforme ele, o desembarque já era esperado devido ao agravamento das disputas internas no PTB, que assiste a uma debandada de integrantes em todo o Brasil. “Não tínhamos mais confiança no PTB em nível nacional”, disse. O partido tem, atualmente, cinco vereadores, a maior bancada do Legislativo venancio-airense.
Na mesma linha, um dos três vereadores eleitos pelo PTB em Vera Cruz, Martin Nyland, avalia que a permanência dos Moraes tornou-se “insustentável” e colocaria em risco a representação da região na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. “Nossa ideia, principalmente os vereadores, é tomar o mesmo rumo que eles”.
Incertezas ainda restam em alguns redutos petebistas
Além de vínculos políticos antigos, alguns de décadas, a atuação na captação de recursos federais para as prefeituras vem sendo decisiva para o grupo dos Moraes conseguir arregimentar apoio na migração, já que os municípios de menor porte, na maioria, dependem fortemente de emendas para realizar obras e investimentos. Mas apesar da ampla adesão, a conversão de petebistas ao PL pode levar algum tempo.
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Um dos motivos é que os atuais vereadores só poderão migrar em março de 2024, quando será aberta a nova “janela partidária”. Além disso, algumas situações particulares ainda precisarão ser alinhadas. Em Sinimbu, por exemplo, o PL integra o grupo governista, enquanto o PTB está na linha de frente da oposição. “Somos família Moraes e acreditamos que estão tomando a melhor decisão, por isso vamos acompanhar, só estamos avaliando o momento. Não sabemos se será agora ou mais à frente”, alegou o presidente Vanderlei Fredrich.
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Em outros locais, ainda há incertezas. É o caso de um importante reduto do PTB, Rio Pardo, onde o assunto será tema de uma reunião aberta do partido nesta quarta-feira, 16. Segundo o ex-prefeito Joni Lisboa da Rocha, embora a manutenção do apoio à família Moraes seja “indiscutível”, existem divergências sobre qual caminho seguir. “Muitas pessoas querem continuar apoiando eles, mas sem sair do partido”, alegou.
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De acordo com o prefeito de Herveiras, Nazario Kuentzer, no município a decisão é de aguardar os desdobramentos da crise do PTB. “Entendemos que a saída deles foi uma necessidade, não uma vontade pessoal. Mas não vamos agora simplesmente migrar junto. Vamos esperar a eleição e ver o que vai acontecer no quadro nacional”. O receio é porque, ao contrário do PL, o PTB possui tradição e estruturas bem consolidadas nesses lugares.
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Em Pantano Grande, o prefeito Mano Paganotto também descartou uma debandada no partido. Segundo ele, quadros locais devem manter os vínculos com lideranças petebistas, mesmo que elas migrem para outras legendas. “Ninguém vai sair neste primeiro momento. Vamos aguardar os próximos capítulos”, disse.
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De saída, Elstor já recebeu convites de seis partidos
Embora tenha reiterado que só vai decidir o futuro político após a formalização do ingresso da família Moraes, o vice-prefeito de Santa Cruz, Elstor Desbessell, confirmou nessa terça-feira, 15, que deve deixar o PL. Filiado desde 2020, Elstor vinha atuando em nível de região pelo partido e chegou a ser lançado pré-candidato a deputado estadual. A permanência, no entanto, tornou-se praticamente inviável já que os Moraes são adversários históricos do Progressistas, partido da prefeita Helena Hermany, e não há intenção de aproximação em nenhum dos lados.
Em entrevista à Rádio Gazeta, Elstor disse que só poderia ficar caso chegasse a um acordo com os Moraes para que se alinhassem ao governo – o que, na prática, é impossível. “Não há como ter o PL que está no governo e o PL que critica o governo. Não posso estar em um partido que diz publicamente que não é governo”, alegou. O vice afirmou ainda que a decisão sobre a entrada dos Moraes partiu “de cima para baixo” e que as bases locais “nunca foram consultadas”.
A filiação dos deputados Marcelo e Kelly Moraes deve ocorrer na próxima terça-feira, 22, em um ato em Porto Alegre. Depois disso, Elstor pretende definir o destino. Até agora, ele já recebeu convite de pelo menos seis partidos, todos da base de apoio a Helena. Além do Progressistas, procuraram Elstor desde o fim de semana o PSD, PSDB, PDT, Republicanos e Cidadania.
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As siglas hoje
O tamanho do PTB
Prefeitos
- Pantano Grande – Mano Paganotto
- Herveiras – Nazario Kuentzer
Vereadores eleitos em 2020
- Santa Cruz – 3
- Venâncio – 5
- Rio Pardo – 2
- Candelária – 3
- Vera Cruz – 3
- Sinimbu – 2
- Vale do Sol – 2
- Encruzilhada do Sul – 2
- Pantano Grande – 3
- Herveiras – 4
- Gramado Xavier – 1
- Passo do Sobrado – 2
O tamanho do PL
Prefeitos
- Boqueirão do Leão – Jocemar Barbon
Vice-prefeitos
- Santa Cruz – Elstor Desbessell
- Sinimbu – Jackson Rabuske
Vereadores eleitos em 2020
- Sinimbu – 2
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