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LITERATURA

O rei da Geração Beat: escritor Jack Kerouac faria 100 anos neste sábado

Neste sábado, 12 de março, o escritor norte-americano Jack Kerouac, o eterno rei da Geração Beat, o ídolo da juventude de meados do século 20, se vivo estivesse, estaria completando exatos 100 anos. Claro que, de certo modo fazendo jus ao estilo de vida que elegeu e adotou, marcado pelo consumo de drogas e de álcool, não chegou nem perto dessa marca: morreu aos 47 anos, no dia 21 de outubro de 1969, em Saint Petersburg, na Flórida. Mal o planeta inteiro acompanhava, estupefato, a jornada da Apolo 11 até seu pouso na Lua, em julho daquele ano, e Kerouac, o ícone dos anos 50 e 60, se despedia.

Na vida de Jack simplesmente tudo se confundiu: família, amigos, amores, opiniões, valores, virtudes e, principalmente, as viagens e a escrita. O que escreveu, tendo em primeiro plano sua obra-prima, On the road, no Brasil traduzida e editada como Pé na estrada, é quase que o registro de cada passo e de cada movimento seu.

A exemplo de outros colegas da chamada Geração Beat, os beatniks (o termo “beat” é associado a liso, pobre, sem eira nem beira, na definição adotada pelos integrantes), Kerouac é um típico filho de sua época. Esse grupo cresceu nos anos 20 e 30, numa realidade norte-americana marcada pela Grande Depressão de 1929. A ela, com a gradativa retomada econômica, seguiu-se a invasão de imigrantes europeus de várias origens que fugiam da Segunda Guerra.
Superado o conflito mundial, esses jovens ingressaram na vida adulta em pleno pós-guerra, mas no qual vigorava o clima da Guerra Fria. Assim, o discurso do “viva enquanto é tempo” foi constante, e a ele se associou a revolução de valores e costumes, com o sexo livre e as drogas. Tudo isso Jack e seus amigos cristalizaram em seus escritos, e também em seu modo de viver.

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Nascido na pequena cidade de Lowell, em Massachussetts, de pais vindos do Canadá, mas de origem francesa, Jean-Louis Lebris de Kerouac, que adotou o nome literário de Jack Kerouac, foi o segundo de três irmãos. Seu mano mais velho, Gérard, morreu ainda na infância, aos nove anos, quando Jack tinha quatro. No livro Visões de Gérard, de algum modo tenta emular e acertar suas contas com o fato de ter ficado à sombra do mano que foi embora tão cedo. Já com a irmã, Caroline, não chegou a estabelecer relação muito afetuosa, sempre distantes.

Seu pai, Léo, e sua mãe, Gabrielle (a Memére), legaram para ele típicos valores de família de imigrantes naqueles anos 20 e 30 de sua infância, esta última década ainda fortemente marcada pela recessão, de maneira que a família saltava de endereço em endereço a cada poucos meses. Já começava ali o périplo de Jack, além de tudo com seus horizontes limitados pela condição social média-baixa. Ainda assim, na juventude conseguiu, por conta de seus dotes físicos, como jogador de futebol americano, ingressar em universidade.

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Porém, já começavam ali a sua desambientação e a sua inquietação. Tão logo tomou contato e conheceu uma eclética turma de jovens igualmente insatisfeitos com o status quo, Kerouac quis, por assim dizer, por o pé na estrada, ir conhecer o mundo, navegar por outros mares. E foi o que fez, intensamente.

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Ele cruzou a América em todas as direções

Jack Kerouac foi um pouco de tudo, fez de tudo, se aproximou de uma fauna incomum, marcada pelo consumo intenso de todas as drogas que surgiam ou eram disponibilizadas, mas especialmente de álcool e benzedrina. Foi talvez um dos maiores beberrões da história da literatura, rivalizando com outros cuja fama se espalhou mundo afora (como o romancista Malcolm Lowry), e, já mais para o final de sua vida, famoso graças a On the road, raramente estava sóbrio, dia e noite. Se com seu texto fluente, ágil e de prosa espontânea, frenético como suas andanças constantes, conquistou os leitores, primeiro os norte-americanos e depois do mundo todo, com um convite à liberdade e ao movimento, na vida real foi na contramão ao se tornar um conservador turrão. E controvertido.

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Quando seu pai já era falecido, ficou agarrado à mãe, em clássica relação edipiana, e foram os conceitos retrógados dela que adotou. A tal ponto que nunca estabeleceu relação efetiva e plena com mulheres, embora tenha tido amantes (mulheres e também homens) às centenas. Da relação com Joan Haverty, entre 1950 e 1951, na época da redação de On the road, teve uma filha, Jan, mas nunca a reconheceu; a Justiça exigiu o teste de DNA, que confirmou a paternidade. Nem isso fez com que se aproximasse da filha, que cresceu rebelde e morreu mais jovem que o pai, aos 44 anos, em 1996.

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Foi com os demais expoentes de sua turma, a nomeada Geração Beat, que mais se identificou, tendo sido o “rei” à frente dessa constelação, embora de alguns depois se afastasse. A trinca principal é Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs, dois autores que firmaram seu nome na literatura norte-americana. Outros, como Neal Cassady (aliás, o inspirador do personagem central de On the road), Gregory Corso e Lawrence Ferlinghetti, transitaram por esse universo. Kerouac foi, entretanto, a grande estrela, com quase duas dezenas de livros, nos quais retrata a sua época e suas andanças.

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Em viagens sucessivas entre o Leste e o Oeste da América, mas também ao México e à Europa, descortina horizontes que, até então, não estavam incorporados ao imaginário da população norte-americana, e muito menos de leitores de outros países. Tendo lido Jack, que se determinou a colocar o pé na estrada, milhares e milhares, alguns apenas em imaginação, com suas obras, e outros seguindo seu exemplo Rota 66 adiante, viajaram, como reza seu lema, sempre em frente, sempre avante.

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