Passadas quase três semanas desde o início das aulas nas redes estadual e privada de Santa Cruz do Sul, uma parcela dos estudantes certamente percebeu uma mudança em sua rotina escolar. O motivo é a implantação do chamado novo Ensino Médio, medida apresentada em 2014, aprovada em 2017 e que passou a vigorar neste ano para as primeiras séries. Com a alteração, a carga horária mínima passa de 800 horas/aula para 1.000 horas/aula e os estudantes ganham a liberdade de escolher as áreas com as quais mais se identificam, para terem uma formação específica.
São os chamados itinerários formativos, que são optativos e podem ser escolhidos livremente conforme a vontade dos estudantes e a disponibilidade nas escolas. As áreas possíveis são: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias e formação técnica e profissional.
Na prática, o aluno terá aulas das quatro áreas do conhecimento divididas por ano ou por semestre, e poderá escolher uma disciplina extra para se aprofundar em uma dessas áreas ou na formação técnica e profissional. Nos municípios de abrangência da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE), dez escolas-piloto já trabalham com o novo currículo desde 2018, cuja implementação completa sofreu atrasos em razão da pandemia. Entre os temas ofertados estão Empreendedorismo, Tecnologia, Sustentabilidade, Educação Financeira, Profissões e Saúde.
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De acordo com o responsável pela 6ª CRE, Luiz Ricardo Pinho de Moura, a implantação do novo formato está “bombando” nas escolas do Vale do Rio Pardo. “Está acontecendo com muito estudo, muita participação dos nossos professores, muita formação, encontros e debates”, afirma. “Estamos indo com muita calma, ouvindo os diferentes segmentos da comunidade escolar”, completa Moura.
O coordenador é favorável às mudanças que, segundo ele, garantem maior protagonismo e autonomia aos alunos, que ganham liberdade para escolher os temas com os quais se identificam. “O nosso estudante passa a ser o centro das atenções. Antes, o centro estava muito voltado à figura do professor e nos conteúdos”, afirma. “Com certeza, com isso vamos assegurar o desenvolvimento do conhecimento, habilidade, atitude e valores. É a oportunidade para o jovem fazer a sua escolha.”
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Professores e gestores aprovam
Para a coordenadora pedagógica do Colégio Marista São Luís, Anete Schuenke Schmitt, as mudanças são positivas. “Estamos diante de uma oportunidade histórica de revitalizar o Ensino Médio”, afirma. Para ela, as principais alterações estão na necessidade de estreitar o diálogo com as juventudes contemporâneas, qualificar o desempenho acadêmico dos estudantes e ampliar as capacidades de responder aos desafios educacionais do século 21.
Na instituição, os itinerários formativos são oferecidos em dois núcleos: Núcleos de Aprofundamento, que asseguram a formação interdisciplinar e oferecem condições para que os estudantes explorem as quatro áreas do conhecimento e façam a escolha mais consciente, e Percursos Investigativos Optativos, compostos por unidades curriculares ligadas às temáticas contemporâneas.
Para a professora Carla Moraes Rodrigues, que ministra as aulas no Núcleo de Aprofundamento de Evolução do Pensamento Científico e do Percurso Investigativo Optativo de Ciências da Saúde e da Vida no São Luís, os alunos estão demonstrando interesse nas aulas. “Eles estão se adaptando à estrutura curricular e desenvolvendo novas habilidades, sobretudo no que diz respeito aos hábitos de estudo”, avalia. Para ela, a importância da restruturação está na forma como o estudante é colocado no processo de aprendizagem, com mais autonomia e protagonismo.
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No Colégio Dom Alberto a mudança começou em 2021 e já ingressa em seu segundo ano. Segundo o coordenador pedagógico Clairton Edinei dos Santos, das 35 horas/aula semanais, dez são dedicadas aos itinerários formativos que podem ser escolhidos pelos estudantes. Existem opções dentro das cinco áreas possíveis, ofertadas na forma de cursos semestrais. Um exemplo é o curso de Ciência Forense, que está em andamento e compõe o itinerário de Análise e Investigação Química, dentro da área de Ciências da Natureza e suas tecnologias. Santos destaca que as mudanças exigiram mais empenho dos alunos, mas hoje a adaptação é total.
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Novidade agrada aos alunos
Os estudantes Leonardo Schmidt de Oliveira e Larissa Murillo estão matriculados na disciplina de Educação Financeira e destacam a importância do aprendizado para o futuro. “Aprender a planejar contas, despesas e receitas e saber o que fazer com o que sobra no final do mês é um conteúdo que agrega muito em nossas vidas”, afirma Leonardo. “Além de cuidar do dinheiro, aprendemos a lidar com situações básicas do dia a dia que, sem a disciplina, talvez não saberíamos como proceder”, completa Larissa. Ela destaca o uso de aplicativos de gestão financeira e a facilidade que a tecnologia atual oferece.
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Disciplinas contemplam a rotina e o futuro
Diferente das matérias tradicionais como Matemática e Língua Portuguesa, os conteúdos desses cursos e disciplinas tratam de outras temáticas, voltadas também à vida dos estudantes fora da escola. Uma delas é Projeto de Vida, ministrada pela professora Gabriela Carvalho Machado no Colégio Mauá. Conforme a professora, as aulas são baseadas em três eixos: pessoal, social e profissional. O primeiro busca incentivar o autoconhecimento dos estudantes, para que descubram seus talentos e potencialidades e desenvolvam habilidades socioemocionais.
O segundo eixo tem por objetivo promover a interação dos jovens com a sociedade. “Temos a ideia de levar os estudantes além dos muros da escola, para que eles conheçam outros espaços da cidade e se encontrem enquanto cidadãos”, destaca Gabriela. Por fim, o terceiro eixo se propõe a mostrar aos alunos o mercado de trabalho e as possíveis áreas de atuação, visando auxiliar na escolha da formação profissional.
Outro exemplo é a disciplina de Educação Financeira, ministrada pela professora Tayná Henn na Escola Educar-se. O propósito é que os jovens saibam equilibrar e gerir suas finanças pessoais e familiares, sobretudo para criar uma consciência financeira sustentável. “Muitos deles ouvem falar em investimentos e ações, mas antes de tratar disso eles precisam dominar a parte básica”, explica Tayná. Os conteúdos incluem receitas e despesas, causas e consequências do endividamento excessivo, hábitos de consumo e tipos de transações bancárias, entre outros.
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As duas docentes aprovam a novidade e destacam a importância para além do ensino tradicional. Essa ampliação das possibilidades, segundo elas, proporciona espaços de debate e aprendizados que antes eram limitados e contribui para uma formação mais abrangente.
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