Quando mudou-se para Belarus, a venâncio-airense Yasmim Heinen Monteiro não imaginava que um ano depois estaria próxima a uma zona de guerra. O país sem saída para o mar e que vive sob uma ditadura faz fronteira com a Rússia e a Ucrânia e foi um dos poucos que apoiou formalmente a invasão que iniciou na última quinta-feira.
A jovem de 23 anos se transferiu para o leste europeu para acompanhar o marido, o atleta paulista Matheus Monteiro do Nascimento, que atua no clube de futebol Torphedo Belaz. Os dois vivem com o filho de 1 ano e 4 meses em Minsk, capital de Belarus.
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Embora até agora não tenha passado por nenhuma situação de risco, a família vive sob angústia desde que o conflito começou e, sobretudo, pelas incertezas quanto aos desdobramentos da crise. “Sentimos muito medo. Estamos ansiosos o tempo inteiro por não saber o que fazer”, disse. Yasmim conversou com a Gazeta do Sul nesse domingo, 27.
ENTREVISTA
Yasmim Heinen Monteiro
Venâncio-airense moradora de Minsk (Belarus)
Como é a vida por aí? É uma região segura?
Aqui eles vivem em uma ditadura. É uma região segura porque as pessoas têm muito medo do governo. Mas há qualidade de vida, as coisas são muito baratas, não tem inflação. Se tu voltares daqui três anos, o preço das coisas no mercado vai estar o mesmo. O mais difícil, além de ser frio e nevar muito, envolve questões como conseguir visto, alugar apartamento, é muito burocrático, as leis são rígidas mesmo. As pessoas têm medo de ajudar, de alugar apartamento para estrangeiro, então isso dificulta um pouco.
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Mudou algo na rotina de vocês após a invasão da Ucrânia?
Na nossa rotina diretamente, não. Os jogos do meu marido foram suspensos, mas os amistosos na cidade por enquanto continuam. Ele continua indo treinar normalmente. Só estamos em sinal de alerta.
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Como é viver tão próximo de uma guerra?
Sentimos muito medo. Estamos ansiosos o tempo todo por não saber o que fazer. As pessoas não comunicam, não dão informação, têm medo de falar. O meu seguro viria da Ucrânia, porque lá os valores são mais baixos. No dia em que começou a guerra, eu acordei com a dona do apartamento onde vivemos na nossa porta, me levando para a polícia porque eu ia ficar sem seguro. E sem seguro, não consigo visto. Quando chegamos lá, estava um caos. Até então, eu achava que não seria um problema para Belarus. Ela me falou da guerra e eu perguntei se havia risco em Belarus. E ela me falou: “eu não sei como fugir”. E ela tem família na Ucrânia. Fiquei desesperada, porque se ela não sabe como fugir, imagina eu.
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E como estão os familiares de vocês no Brasil?
Meus pais ficam ligando o tempo inteiro, acompanhando notícias, muito nervosos e ansiosos. As nossas famílias se comunicam também com famílias de outros amigos do Matheus, que estão na Ucrânia. É uma situação bem apreensiva.
Qual o sentimento da população local em relação ao conflito?
Belarus apoiou a Rússia. Já esperávamos, porque eles são completamente dependentes da Rússia. No dia seguinte à invasão, tinha soldados passando em frente à minha casa o tempo inteiro, acredito que eram soldados chamados para servir na Rússia. Quanto à população, não vi ninguém apoiando. Eles não podem falar sobre isso, mas não vejo apoio. Eles realmente acreditam que se trata de um massacre. Até porque esses dois países, Ucrânia e Belarus, já foram parte da Rússia. Então as pessoas têm familiares tanto na Rússia quanto na Ucrânia. E aí não conseguem trazer os familiares para cá, as fronteiras estão todas fechadas e, até onde a gente sabe, só tem voo para Moscou. Tenho a informação de que bancos também não estão mais fazendo troca da moeda local para dólar. Homens de 18 a 60 anos também não podem mais sair do país.
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A partir do que vocês ouvem falar, acreditam que a guerra pode ir até quando?
Falam que pode durar até abril, porque a partir daí a Rússia não teria mais condições de manter a guerra. Até por questões climáticas, porque aí para de nevar e fica mais fácil atacar a Rússia. Não fazemos ideia de como isso vai terminar, vai depender muito se tiver um acordo. Sabemos que tem bases dos EUA aqui na fronteira de Belarus e falaram que, caso a Rússia passasse dos limites e atacasse outros países, eles (EUA) iriam atacar países que estão apoiando a Rússia. Aí ficamos com medo. Esperamos que termine logo. Temos filho aqui e ficamos realmente muito assustados, até por sermos estrangeiros e não termos apoio algum. Vemos o desespero tanto de nossos amigos que estavam na Ucrânia quanto de pessoas daqui que têm famílias lá e é muito triste.
Brasileiros
O Ministério das Relações Exteriores informou nesse domingo que já auxiliou 80 brasileiros a escaparem da guerra na Ucrânia, provocada pela invasão militar da Rússia. Os principais destinos da comunidade brasileira foram a Polônia e a Romênia, países fronteiriços.
O Itamaraty disse que a embaixada em Kiev, capital da Ucrânia, possui registros em lista de outros 100 brasileiros, que permanecem em território ucraniano. Antes da invasão russa, a comunidade brasileira na Ucrânia era estimada em aproximadamente 500 pessoas, um grupo pequeno, conforme dados do governo federal.
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