Preparem-se, o ano eleitoral de 2022 vai ser cheio de emoções. Já vivemos três anos de preliminares, mas foi só uma amostra. Agora é que vai ser a final. Desde a eleição do deputado do baixo-clero, está no ar o espírito de vingança do lado que perdeu, não apenas a eleição, mas o longo desfrute do Estado. As tentativas de tapetão até agora foram vãs. Chegou a haver uma CPI claramente eleitoreira, que virou ópera bufa e o relatório não pôde ser levado a sério. O esforço militante para promovê-la acabou fazendo minguar audiência e leitores.
Nesta reta final estão no jogo dois candidatos à reeleição. Um já foi presidente e o outro é. Os dois, portanto, têm o que mostrar sobre o que fizeram. Nestes meses que faltam, o desespero vai aumentar. Mas já levou a enganos. A oposição tem posto o atual presidente como centro e eixo de todas as questões. Nem mesmo os que desejam derrotá-lo acreditam nas pesquisas, porque se acreditassem, estariam com a cabeça fria quanto ao resultado de outubro. Aí, na ausência das costumeiras notícias de corrupção no governo, o modelo do calçado do presidente virou parte da cobertura internacional no Kremlin.
O ano eleitoral recém começou e ministros da Suprema Corte, juízes do Tribunal Superior Eleitoral, já abandonaram a discrição de magistrados e desceram para a campanha eleitoral para criticar um dos candidatos, deixando aflorar a natureza de advogados. Como se sabe, a vocação do advogado é trabalhar a favor de alguém e contra alguém ou algo. Advogado é sempre parcial, a favor do representado; já o juiz tem que ser sempre imparcial, ao lado da lei e da Justiça. Fiquei pensando se não deveria ser alterada a composição do Supremo, para evitar que ministros da Corte, sendo advogados profissionais, se manifestassem como advogados. Que o tribunal fosse composto só por juízes de carreira, depois de passarem por todas as instâncias e então, no Superior Tribunal de Justiça, ser escolhido o mais brilhante, indicado ao Senado como juiz supremo. Estudantes de Direito certamente estranham, quando não se escandalizam, que juízes do Supremo emitam opiniões, suposições e pré-julgamentos, justo no ano em que terão que ser juízes e administradores de uma eleição. Isso também faz parte das emoções de 2022.
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Enfim, preparemos nossos olhos e ouvidos para notícias falsas, sofismas, boatos, fofocas, factoides, suposições, insinuações, invenções – escritas, faladas, desenhadas, filmadas, fotografadas, editadas e até carimbadas como checadas e desmentidas. Eleição sempre teve isso, mas era no mundo oral, impresso, de mão única; agora, no mundo digital, são infinitos níveis, direções e vias, na velocidade do instante. Preparemo-nos para não comprar a verdade já embrulhada. Aceitar sem desembrulhar é como um ato de fé, mas isso é para as questões espirituais, não para decidir o futuro dos nossos filhos, nossos empregos, nossos empreendimentos, nosso país. Desembrulhemos o que oferecem para nossos olhos e ouvidos, com o ceticismo da razão, sem a emoção ingênua. Desembrulhe, para não ser embrulhado.
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