A liberação das licenças para um novo complexo de energia em Rio Grande não trouxe entusiasmo apenas à Metade Sul. No Vale do Rio Pardo, há expectativa de que o investimento, que deve chegar a R$ 6 bilhões e ser o maior da história do Rio Grande Sul, facilite o acesso a gás natural, uma demanda antiga do setor industrial local.
A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) emitiu na segunda-feira a licença prévia para implantação de uma estação de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) e a licença de instalação de uma usina termelétrica a gás natural. O complexo ficará junto à estrutura do Superporto e a previsão é de que as obras comecem no próximo trimestre, com o início da operação em 2024. O projeto, 100% privado, será executado pelo grupo espanhol Cobra.
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Atualmente, algumas empresas de municípios como Santa Cruz e Venâncio Aires dependem de gás liquefeito de petróleo (GLP), o que inclui setores como tabaco e metalurgia. O combustível é usado diretamente na fabricação de produtos (como em caldeiras ou fornos) ou indiretamente (para abastecer empilhadeiras, por exemplo). A região, porém, não é servida por uma rede de distribuição e a substância, que vem da Bolívia por meio do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), é transportada até as empresas por caminhões.
Na prática, o complexo será uma nova porta de entrada para o produto no Estado, o que pode beneficiar as indústrias, já que, segundo estudos, a substituição do GLP pelo gás natural pode gerar uma economia de 20%. Segundo o vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Flávio Haas, embora ainda sejam poucas as empresas que utilizam gás no processo produtivo, a criação de uma nova fonte de abastecimento é capaz de estimular a migração. Além disso, observa que a facilidade na obtenção do combustível, combinada à localização privilegiada da região, pode ser um fator para atração de investimentos. “No mínimo, haverá uma oferta maior de gás natural e, com isso, uma redução de custos”, observou.
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Além da oferta de gás, o incremento na geração de energia com a usina termelétrica deve fortalecer todo o segmento industrial do Estado, segundo o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Edson Brum. “Isso nos tranquiliza bastante porque nos dá uma garantia para os próximos ano. Na China, por exemplo, indústrias estão paralisando toda semana por falta de energia”, afirmou.
Na mesma linha, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Santa Cruz (ACI), César Cechinato, acredita que isso pode tornar o Rio Grande do Sul mais atrativo para investidores, com reflexos não só na região Sul. “Para atrair qualquer investimento, tem que ter estrada, portos e energia. Se o investidor vê isso como um gargalo nos próximos anos, não vai vir. Então, essa perspectiva de autossuficiência em energia é muito importante”, analisou. A usina terá capacidade de 1.280 megawatts (MW).
Como vai ser
Diferentemente do modelo previsto no projeto original do complexo, concebido ainda durante o governo Yeda Crusius (PSDB), em que a regaseificação seria feita em um terminal flutuante, a versão que obteve a licença prevê um terminal em terra firme, junto à estrutura do Superporto.
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O gás natural liquefeito (GNL) será recebido por navios e, no terminal, será transformado em estado gasoso. Dali, poderá alimentar a usina termelétrica e o distrito industrial de Rio Grande, além de poder ser distribuído por meio de gasodutos e hidrovias para outras regiões.
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Superintendente: “O mercado é que vai falar”
O superintendente da Portos RS, Fernando Estima, que se envolveu diretamente nas articulações para o avanço do projeto do complexo de energia, confirma que o investimento irá garantir uma ampliação na oferta de gás natural. Isso poderá beneficiar polos industriais de outras regiões.
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Conforme ele, parte do combustível produzido deve abastecer a usina termelétrica, outra deve alimentar o distrito industrial de Rio Grande – empresas como Ipiranga e Iara já manifestaram interesse – e outra deve ser distribuída por meio de gasodutos ou hidrovias e uma estrutura de pontos de recebimento (os chamados city gates).
Sobre a possibilidade de o Vale do Rio Pardo ser contemplado, Estima alegou que isso dependerá do interesse das empresas locais. “O mercado é que vai falar. O mais importante é que teremos abastecimento regular com preço mais acessível”, disse. Ainda segundo ele, o primeiro passo será implantar a estação de regaseificação. “Primeiro vamos implantar o principal, depois fazer os hubs de distribuição.”
Estima alegou que a geração de empregos com o megainvestimento – projeta-se uma demanda de 5 mil trabalhadores com as obras – também irá se refletir nas demais regiões. “Assim como ocorreu na época dos investimentos no polo naval, quando foi preciso importar trabalhadores até de fora do Estado e do País”, completou.
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Prefeitos pedirão apoio ao governador Eduardo Leite
O investimento em Rio Grande também deve estimular a mobilização para que o Vale do Rio Pardo conte com uma rede de distribuição de gás natural. A possibilidade começou a ser discutida há mais de 20 anos, quando havia a expectativa de que o Estado passasse a ser abastecido com gás da Argentina, o que não se confirmou. À época, o plano era instalar um ponto de recebimento na região.
Mais recentemente, a Companhia de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás) anunciou a implantação de uma rede para atender empresas de Santa Cruz. O projeto previa uma estrutura que não seria conectada com nenhum ponto de recebimento: o combustível seria transportado a partir de uma unidade de compressão e injetado nas tubulações. A ideia, porém, também não avançou. No ano passado, a Sulgás foi vendida para a Compass, do grupo Cosan.
O assunto segue na agenda de lideranças políticas da região. Conforme o prefeito de Rio Pardo, Edivilson Brum (MDB), a movimentação que vinha ocorrendo era por uma ampliação da rede de distribuição da Sulgás a partir de Charqueadas em direção a Santa Cruz, contemplando a Região Carbonífera e o Vale do Rio Pardo. Com a confirmação do projeto do Grupo Cobra, a ideia é trabalhar também por uma ligação com a estrutura de Rio Grande.
Conforme Edivilson, a disponibilidade de uma rede é fundamental para que a região tenha mais competitividade. “Se formos disputar investimento com municípios da Serra, já saímos em desvantagem porque não temos gasoduto e lá tem”, observou. O mandatário pretende propor, na próxima reunião da Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo (Amvarp), a elaboração de uma moção ao governador Eduardo Leite (PSDB) pedindo apoio ao pleito.
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