Boston é uma das cidades mais antigas dos Estados Unidos e a mais importante da Nova Inglaterra, grupo de seis estados do nordeste americano que, antes de serem “Estados Unidos”, já se consideravam o centro político e intelectual do país. Oito presidentes americanos saíram dali, assim como toda a dinastia Kennedy, que residia nos arredores de Boston. Da cidade partiu também a ideia de um governo popular que inspirou os colonizadores a quebrar os laços com a “velha” Inglaterra e criar uma próspera nação.
Uma linha vermelha de 4 quilômetros nas calçadas da capital do estado de Massachusetts marca o Caminho da Liberdade (Freedom Trail), passando por vários pontos históricos e marcos revolucionários. Entre eles está a Old South Meeting House, antigo templo protestante que serviu de assembleia para os patriotas que iniciaram o movimento chamado Festa do Chá de Boston.
O protesto contra impostos exorbitantes e o monopólio do comércio de chá pelos britânicos refletia principalmente o ressentimento da população colonial, taxada pesadamente sem ter representação alguma no parlamento de Londres. Em dezembro de 1773, os colonos invadiram navios ingleses atracados no Porto de Boston e jogaram toda a carga de centenas de baús de chá ao mar. O acontecimento, considerado chave na história americana, foi o estopim da luta pela independência das chamadas Treze Colônias e resultou na formação dos Estados Unidos, em 1776.
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O mercado de Faneuil Hall é um dos locais mais visitados pelos turistas americanos, conhecido como berço da independência por ter sido palco dos inflamados discursos de Samuel Adams pela ruptura com o Império Britânico. Samuel é considerado um dos patriarcas da nação, assim como seu primo John Adams, que em 1797 se tornou o segundo presidente americano, sucedendo a George Washington. Em uma das bancas do adjacente Mercado Quincy, na qual todos os funcionários eram mineiros, provei um saboroso clam chowder, sopa de mariscos típica da região. Para acompanhar, foi obrigatório pedir a cerveja mais popular da cidade, uma lager que homenageia o revolucionário Samuel Adams.
Boston é um mosaico vivo de nacionalidades e um microcosmo do caldeirão cultural americano, com destaque para a imigração irlandesa, asiática, portuguesa, afro-americana e, nas últimas décadas, brasileira. Os imigrantes foram acolhidos pela cidade, mesmo que, por vezes, de forma turbulenta. Diga-se de passagem, ainda não conheci outra cidade fora do mundo lusófono onde se escute tanto a língua de Camões pelas ruas.
Como prova da vocação cerebral e acadêmica da região, fiz questão de atravessar o Rio Charles e visitar Cambridge, cidade da área metropolitana de Boston que abriga a Universidade de Harvard, a mais antiga do país, e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), meca da Engenharia e das Ciências Aplicadas. Até hoje, nada menos que 259 laureados com o Prêmio Nobel passaram por essas duas universidades.
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Outro passeio na cidade, contudo, chamou-me ainda mais a atenção. A Trilha da Herança Negra explora a história da comunidade afro-americana do século 19 em uma região que, embora tenha um histórico abolicionista, ficou marcada por conflitos étnicos e raciais. O roteiro inclui a Casa de Encontros Africana, mais antiga igreja afro-americana do país, e o Memorial do 54º Regimento, primeiro grupo militar estadunidense formado exclusivamente por soldados negros que lutaram durante a Guerra Civil Americana (1861-1865).
Um comentário quase imperceptível do guia de um desses locais me deixou intrigado, motivando posterior pesquisa mais detalhada sobre um indivíduo que se tornou vital na luta pela abolição da escravidão e no movimento de direitos civis dos Estados Unidos. Um homem que deveria ser muito mais conhecido e estudado, principalmente no Brasil, pois trata-se de um brasileiro.
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