Pepe Soares
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Ainda lembro da Anitta brincando com a Preta Gil que o seu nome verdadeiro era Larissa e que se orgulhava do Quadradinho de 8 que ela requebrava nos bailes da Furacão 2000 no Rio de Janeiro. Esta cena, paralisada no tempo, representa uma parábola gigantesca entre a criação e a criatura que hoje pisa no palco dos grandes circuitos musicais da Terra do Tio Sam, com a devida licença poética, tornando-se a Carmen Miranda da geração Millenium.

Na época da diva de Tico-tico no Fubá, minha existência era hipotética e tudo o que acompanhei sobre a cantora mais respeitada fora do Brasil resgatei da História e dos fatos narrados naqueles tempos. No caso da Anitta, acompanhar a construção da sua carreira precisou de atenção redobrada aos fatos musicais (talento nos palcos) e socioculturais dos quais ela soube se apropriar com astúcia e ousadia. O poder máximo das gravadoras já não pesa tanto na balança e o tribunal das redes sociais – cujo dedo de imperador romano é implacável com a maioria -, no caso dela, mais assopra do que bate.

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Quando acompanhava as cerimônias do Oscar, lembro que as atrizes principais que em seus papéis sofriam transformações para “apagar” a sua beleza, para que se sobressaíssem as interpretações, recebiam pontos a favor na escolha da Academia. Acredito que, com a Anitta, o processo não foi muito diferente quando ela decidiu “assumir” e mostrar nos clipes que seu corpo tinha imperfeições naturais, espelhou a realidade dos seus fãs e ganhou notoriedade internacional. Depois disso, entre uma enxurrada de hits e escândalos fictícios ou não, assumiu um posto que poucos conseguem sustentar, tornando-se a atração brasileira mais influente deste milênio, com fôlego aparentemente ilimitado.

O lançamento de Boys Don’t Cry eleva a régua para todos os demais trabalhos que ela se propuser. A campanha de divulgação, incluindo os principais programas de entretenimento dos Estados Unidos, traz o upgrade que todo artista latino deseja. Contudo, a vida útil destas ações é bem menor do que os 15 minutos de fama profetizados por Andy Warhol. A escolha certa dos próximos parceiros do Show Business poderá ser o gás necessário para manter no patamar mais alto a menina do Rio.

Na História da Música Brasileira, Anitta deixou de ser apenas linha numa página em branco. Hoje, já tem todo um parágrafo e, dependendo do que fizer daqui para a frente, será digna de um capítulo inteiro. “Essa mina é louca”, não duvide.

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