Ela faleceu cinco dias antes do Natal.
Maria, da família Rocha, natural de Estrela, se casara com Henrique Wenzel. Ele, nascido em Cerro Branco, migrara com seus pais para Cerro Largo. Foi na missioneira terra que os dois estabeleceram família. Trabalhavam na lavoura ao tempo em que atendiam eventuais clientes no moinho. Da união nasceram oito crianças. Herta, uma das filhas, veio a seguir sua vocação como franciscana.
Há alguns anos, Herta nos visitou aqui em Santa Cruz do Sul. Daqui ela seguiria para São Leopoldo, onde sua congregação mantém um educandário. Durante a viagem, a Irmã, minha tia, contou um episódio marcante.
Corria o ano de 1951. Maria, mãe de Herta, fora acometida por uma grave doença na altura do peito. Seria, segundo se pensava na época, resultado de um impacto em função dos solavancos da charrete, que haviam emprestado de um vizinho. O fato é que dona Maria sofreu muito, e, apesar de todas as tentativas possíveis, veio a óbito no dia 20 de dezembro de 1951. Hoje, meu irmão, o médico Roque, entende que teria sido um câncer que a fatalizara.
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Henrique amava profundamente sua esposa Maria Irma. Em certa ocasião, mais tarde, lhe foi sugerido que encontrasse outra pessoa para conviver, refazendo, assim, sua vida conjugal. Ele, um homem de poucas falas e profundas convicções, não duvidou: “Amei uma só vez e uma só mulher”. Pois foi em homenagem a sua Maria que Henrique, em reunião de família, entendeu que montar o presépio de Natal não quebraria o luto. E, assim, em louvor à mulher que tanto amara, Henrique decidiu que aquele Natal de 1951 seria especial. “Vamos fazer o Natal sim,” dissera Henrique.
Quando tudo indicava que o Natal seria sufocado pelo luto de toda a família, fora resolvido que a tradição seria mantida, até porque, por certo, assim também iria querer dona Maria. De alguma maneira, ela estaria ali, junto à manjedoura, distribuindo os doces cobertos com merengue e açúcar colorido.
Em meio à dor profunda, enfeitaram o “pinheirinho”. Carinhosamente posicionaram uma a uma as figuras do presépio que fora da mãe: reis magos, pastor, animais, José e Maria. Por fim, instalaram a manjedoura, pronta para receber Jesus e referência por tantos anos, das alegrias natalinas, dos pequenos presentes e das orações esperançosas.
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Herta, lembro bem, em meio à viagem, interrompera sua narrativa algumas vezes, na tentativa de guardar para si as lágrimas que insistiam em escorrer pela face de quem vira as dificuldades de tempos outros, mas tão atuais em sua memória.
Chegados em São Leopoldo, nos despedimos da tia freira. Fizemos, eu e a Vera, de conta que estava tudo bem e fomos em direção a Porto Alegre. Não estava tudo bem, estava tudo muitíssimo melhor. Foi uma viagem inesquecível. Não apenas por termos tomado conhecimento do ocorrido, pela voz de quem o vivenciara, mas por sentirmos que Natal é Natal, independentemente da dor e da dificuldade do momento, uma vez que o amor sempre será maior.
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