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Ela faz a diferença

O olhar experiente de Analidia Petry

Os olhos castanhos-claros de Analidia Rodolpho Petry transmitem muito mais do que a simpatia que logo se enxerga ao vê-la. São anos de aprendizados, transformação social e amor pelo que faz refletidos não só no olhar atento e no sorriso aberto, mas em todo o legado que ela constrói, dia após dia, na cidade que a acolheu. É no bloco 31 da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), no Sistema Integrado de Saúde (SIS), que ela recebe, acolhe e transforma a vida de pessoas. Com uma bagagem cheia de conhecimento, ela pleiteou a implantação de um serviço que, hoje, é realidade: o Ambulatório Multiprofissional de Atenção à Saúde da População LGBTTQ+ (Ambitrans).

Natural de Cachoeira do Sul, Analidia morou em diversas cidades durante a infância, já que o pai era militar. Enfermeira formada em 1985 pela FEAUC-ACAFE, em Santa Catarina, viajou para Portugal em 1988, com uma bolsa de estudos para cursar especialização em Saúde Mental Comunitária no ISPA, de Lisboa. “Acabei morando lá por quase cinco anos e tive a oportunidade de trabalhar em vários hospitais e serviços de saúde”, conta. No passaporte, ainda leva países como França, Inglaterra, Espanha, Alemanha e Marrocos. Nas viagens, sempre procurou aprender mais sobre a temática da sexualidade sob diferentes vieses, assunto com o qual trabalha desde 2002. 

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De volta ao Brasil, instalou-se em Teutônia e ingressou no time de professores do Curso de Enfermagem da Unisc, em 1996. Um mestrado e um doutorado vieram logo depois. Neste último, a tese defendida tratava da migração sexual e de gênero com mulheres transexuais. “Realizei parte do doutorado na Manchester Metropolitan University, na Inglaterra, e meu co-orientador foi Stephen Whittle, que é um homem trans. Ter sido sua orientanda provocou grande crescimento pessoal e profissional em mim”, comenta a professora. Hoje, ela é membro da World Professional Association for Transgender Health (WPATH), do Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde (GAPS) e do Conselho Municipal da Diversidade de Santa Cruz (Comudi).

Foi com este olhar que a enfermeira percebeu uma lacuna muito importante na saúde pública: o atendimento qualificado e respeitoso à população LGBTQIA+. “Trata-se de uma população desassistida para a qual há poucos profissionais habilitados para a realização do atendimento. Importa considerar que a trajetória de vida das pessoas trans é marcada pela discriminação, exclusão e violência. Há situações de discriminação e hostilidade que marginalizam esta população quando procuram os serviços de saúde”, explica.

Para preencher esta lacuna, Analidia criou o Ambitrans. O serviço foi iniciado em maio de 2019 e desde então já impactou a vida de mais de mil pessoas, direta e indiretamente, de Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, Vera Cruz, Mato Leitão, Vera Cruz, Teutônia e Taquari, além dos atendimentos virtuais. “Oferecemos consultas médicas, de enfermagem e atendimento psicológico. Além disso, temos grupos de indivíduos trans, grupos de familiares, palestras em escolas e formação em serviços de saúde”. Os serviços são gratuitos e qualquer pessoa pode procurar atendimento.

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O foco, segundo a enfermeira, é dar a atenção à saúde necessária para a comunidade. “O Ambitrans não existe para transformar corpos. Nosso ambulatório existe para incluir pessoas e auxiliá-las nas demandas que a vida apresenta”, diz. “Acredito no que faço e no espaço transformador que o Ambitrans pode ter na vida de muitas pessoas. Acompanhar famílias para que entendam um pouco melhor o que está acontecendo, ver pessoas trans conseguirem finalizar um curso, conseguir um emprego e se legitimar socialmente é um presente para qualquer profissional. Além disso, é revigorante acompanhar os alunos de vários cursos da área da saúde que têm a oportunidade de trabalhar conosco. É gratificante vê-los ampliarem seus horizontes para uma atenção integral em relação às identidades sexuais e de gênero para além do processo de medicalização da vida.”

Na família, encontra apoio no esposo, Paulo Luiz Petry, com quem é casada há 38 anos, e na filha, Laura Rodolpho Petry, de 21 anos. Apesar de passar a semana em Santa Cruz, é em Teutônia que está sua base, como ela mesma chama, junto ao marido. Por aqui, ao lado da vice-coordenadora do Ambitrans, Vera Somavilla, e com o respaldo da Unisc, que abraçou o projeto, Analidia segue com olhar atento sobre a comunidade que tanto precisa da sua contribuição. Afinal, os olhos castanhos-claros da professora transmitem muito mais do que simpatia. Transmitem respeito, empatia e conhecimento.

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