O Museu do Colégio Mauá, de Santa Cruz do Sul, repassou três objetos de valor histórico para a Associação de Amigos do Solar do Almirante (Aasa), de Rio Pardo. Um quadro com a fotografia do navio de guerra comandado pelo Almirante Alexandrino de Alencar, uma luneta de bordo que pertenceu a ele e uma cama de casal, que também foi do Almirante, foram os itens destinados à associação.
O repasse foi realizado na segunda-feira, 6, pelo diretor do Colégio Mauá, Nestor Raschen, e pela diretora do Museu do Mauá, Maria Luiza Rauber Schuster. A presidente da Aasa, Patrícia Fontoura, recebeu os itens. Para ela, ter novamente os objetos em Rio Pardo significa uma realização e a certeza de que a associação está cumprindo o propósito de trabalhar em favor do resgate da cultura e do turismo e, principalmente, da valorização do patrimônio histórico.
“Isso não seria possível sem a ajuda da Maria Luiza, que tão bem abrigou esses objetos por anos, com o maior cuidado. Vendo que eles pertenciam a Rio Pardo e tinham um vínculo muito forte com nosso projeto, nos foi passada a guarda”, relata Patrícia. A presidente da Aasa observa que, embora tenha passado por melhorias, o Solar ainda não está pronto para abrigar peças de museu, pois ainda não conta com a estrutura necessária. “Por isso não vamos deixar a cama lá. Mas ela vai estar muito bem abrigada no Centro Regional de Cultura. E esses objetos vão ficar expostos lá até que a gente conclua a obra no Solar do Almirante.”
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OPINIÃO: o tesouro de Rio Pardo
por Caroline Garske
Poucas palavras são capazes de descrever o que senti quando conheci Rio Pardo, em maio deste ano. Embora ao lado da minha cidade natal, Cachoeira do Sul, eu nunca havia visitado o município histórico – algo que era meu desejo há tempos. As edificações, que muito contam sobre a construção do Rio Grande do Sul, lembraram-me o tempo que morei em Porto, cidade ao norte de Portugal. As casas que carregam consigo a influência da arquitetura açoriana não mentem sobre a identidade cultural trazida de lá e que foi construída ao longo dos anos com outras tantas influências.
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Não precisei andar muito pelas ruas – consegue imaginar quantas figuras importantes passaram por elas? – para ter uma certeza: Rio Pardo é um tesouro pouco explorado. Há quem diga que, enterrados nos campos do município, há ouro e outras riquezas que restaram daqueles outros tempos. Eu acredito que a fortuna da cidade é a própria. Enquanto enchia meus olhos com tantas referências para quem ama história, um dos locais que mais me chamou a atenção foi o imponente prédio com paredes brancas e portas e janelas em azul na esquina das ruas Almirante Alexandrino e São Francisco. A parada foi obrigatória.
O Solar Almirante Alexandrino de Alencar foi construído em 1790, sendo um dos mais antigos ainda em pé no município. Para lutar por sua reocupação como ambiente cultural, voluntários uniram-se e criaram a Associação de Amigos do Solar do Almirante (Aasa). A presidente Patrícia Fontoura, de 46 anos, é uma apaixonada por Rio Pardo e pelo prédio. “É chamado de solar, mas é um sobrado, porque o solar é destinado só à moradia, e o sobrado tem na parte de baixo o comércio e, em cima, moradia. E aqui era assim.”
O almirante Alexandrino de Alencar nasceu em Rio Pardo no dia 2 de outubro de 1848 e faleceu em 18 de abril de 1926. Ele teve importante papel na armada e na política, fez propaganda republicana, foi senador, ministro da Marinha e ministro do Supremo Tribunal Militar. Conhecedora de cada canto da edificação, Patrícia mostra o estreito e longo cômodo com poucas aberturas que era a senzala e as peças no piso inferior, que abrigavam o comércio. Em cima, a cozinha e os quartos. Nessa parte, uma curiosidade: o quarto das moças solteiras fica entre dois dormitórios, para evitar “fugas”.
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Atualmente, a Aasa possui a guarda do Solar do Almirante. “É como ter a guarda de uma criança. Cuidar, manter, fazer as intervenções emergenciais necessárias, só depois dar um outro destino. Nosso projeto tem restauro, manutenção e sustentabilidade.” A advogada conta que ela e o grupo voluntário querem e vão transformar o local em um espaço colaborativo comunitário. “Resgatar nossa história, o amor por Rio Pardo.” No projeto está incluído um café que irá servir produtos de origem portuguesa e açoriana, além de exposições itinerantes.
Bem, eu citei rapidamente minha experiência em Portugal, o que me fez refletir: quantas coisas que estão longe são mais valorizadas por conta da nossa síndrome de vira-lata? Sim, no Velho Mundo existem experiências incríveis que precisam ser preservadas e visitadas, se possível for. Mas manter esquecido o passado, que faz parte do que somos, é como perder capítulos da nossa própria história. Rio Pardo é um destes lugares que estão muito perto de nós e precisam ser reconhecidos, lembrados e sempre mencionados, para que não se percam em lendas – como a de que o tesouro está escondido, quando, na verdade, está no Solar e em outros tantos ícones de uma riqueza feita de hibridismos, e mesmo assim, única.
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