O chiado na fala característica do carioca, o cantado com fonética diferenciada da região cacaueira da Bahia, o gauchês porto-alegrense, que se diferencia até mesmo do restante do Rio Grande do Sul. Foram muitos os sotaques que invadiram o telão do auditório central da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), na segunda noite da Mostra Nacional Competitiva do 4º Festival Santa Cruz do Cinema.
Assim como a diversidade na forma de fala dos povos brasileiros, os curtas apresentados levaram ao público, formado por estudantes e amantes da sétima arte, assuntos que oportunizaram reflexão sobre questões sociais e culturais, muitas evidentes e que já fazem parte do diálogo cotidiano, e outras que pouco são percebidas pela aparente forma dinâmica vivida na atualidade.
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A noite foi aberta com o filme Copacabana Madureira, que pelo nome já apresenta as disparidades sociais da mais famosa cidade brasileira, o Rio de Janeiro. Mas foi além. O diretor Leonardo Martinelli trouxe à tona a forma como as fake news têm interferido na vida das pessoas, em especial com a sua utilização e vinculação à política.
O produtor Francis Vasconcelos, que representou a equipe, destacou que é um tema que atormenta a sociedade, sobretudo pela aproximação de mais uma eleição. “O assunto conversa com o futuro breve, pois foi iconográfico na eleição de 2018 e pode se repetir”, reforçou. Casos verídicos e polêmicos foram levantados, como os do kit gay e a mamadeira que teria o bico em formato de pênis, supostamente incentivadores da homossexualidade. A película ainda cutuca o governo federal, ao mostrar em texto invertido a frase utilizada pelo presidente Jair Bolsonaro: “Brasil acima de tudo, e Deus acima de todos”.
Em Eu não sou um Robô, a diretora e atriz Gabriela Lamas, de São Lourenço do Sul, fez com que o debate sobre autoconhecimento e o discurso existencialista fossem a pauta da noite. Também fez uma crítica em relação às medidas neoliberais, com o apontamento de que “99% da população é estrangeira dentro de sua terra”. Para a profissional, essa é a oportunidade de um reencontro com o público. “Estava com uma expectativa muito boa por essa interação. É um dos primeiros eventos a possibilitar a participação. Até então, havia participado de festivais online”, acrescenta.
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Além de Copacabana Madureira e Eu não sou um Robô, foram exibidas mais quatro obras. Desencanto trata sobre a rejeição, a solidão em um grande centro e a vivência cotidiana em Porto Alegre. Seremos Ouvidas, de Larissa Nepomuceno, aborda uma dificuldade das mulheres na sociedade, a violência por gênero contra surdas – toda a apresentação é feita na linguagem de Libras. Já Dois Riachões: Cacau e Liberdade, da dupla Felipe Abreu e Patrícia Moll, evidencia a reforma agrária e os resultados conseguidos em um assentamento em Ibirapitanga, na Bahia. São personagens reais, que mostram, neste documentário, a possibilidade de aumentar a produtividade sem causar danos à natureza.
Por fim, em O Amor é um Cão do Inferno, Sacha Bali traz a base de um texto de Charles Bukowski, com a sua peculiar passagem pela loucura e decrepitação humana, para o debate entre o casal de protagonistas Margareth e Téo, que vivem um relacionamento pra lá de tumultuado.
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Assuntos contemporâneos atraem a atenção
Aluno da Escola Willy Carlos Fröhlich, o Polivalente, Henrique Gonçalves da Silva, de 16 anos, chegou à Unisc com a esperança de ver diversidade cultural e racial no telão. “Espero que, a partir de eventos como esse e do cinema, possa haver a desconstrução do conservadorismo da sociedade”, disse ao ingressar no auditório central.
Na saída, ele demonstrou satisfação pelo que teve oportunidade de assistir. “Trouxe assuntos contemporâneos, como as eleições, fake news, os relacionamentos abusivos, dando espaço para o que a nossa mente é capaz de criar, com Desencanto e Eu não sou um Robô”, comentou o estudante.
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Fazendo uma análise técnica, Henrique apontou a forma como os temas foram tratados, com a roteirização que deu ênfase para estimular a reflexão, elencando uma série de informações que podem estar no dia a dia de qualquer um que assistir aos filmes.
O 4º Festival Santa Cruz de Cinema é uma realização do Sesc, Unisc e Pé de Coelho Filmes, com patrocínio da JTI, Corsan e Prefeitura de Santa Cruz do Sul, apoio da Gazeta Grupo de Comunicações, Cine Santa Cruz, Amigos do Cinema, Heilege, Proeza, Hbier, Legend, Music Bar, Gaveta e Seasc.
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