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Opinião: Dia da Consciência Negra

Por Júlia Rejane de Souza, professora aposentada

O dia 20 de novembro, aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, foi escolhido pelo movimento negro como um dia de luta e passou a chamar-se Dia da Consciência Negra. Ouvi e li muitas críticas a esta expressão. Mas vejamos: a Wikipédia diz que consciência é uma qualidade da mente. Já o Dicionário On-line diz que é o conhecimento ou sentimentos próprios que auxiliam uma pessoa a perceber o que acontece na própria vida. As duas definições pressupõem construção. Então, CONSCIÊNCIA NEGRA é uma construção a ser feita por nós, negros e negras e pelos não negros. É esta consciência que nos leva a alguns estranhamentos, como, por exemplo, num caderno especial de um jornal sobre Dia do Advogado, volta às aulas, Dia do Trabalho e muitos outros, não vermos pessoas negras. Isso
deve nos incomodar. Outro estranhamento é nos espaços de lazer e cultura, pouco frequentados por negros e negras.

Também interessa a não negros porque a maioria dos cargos de chefia estão com pessoas não negras. São elas que podem dar visibilidade e oportunidade a negros e negras. O racismo é uma realidade estrutural em nosso país. Djamila Ribeiro diz: “O silêncio o torna ética e politicamente responsável pela manutenção do racismo”. E pergunta: “O que você está fazendo ativamente para combater o racismo?”

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O Brasil tem a maior população negra fora da África: 56,1% declara-se preta ou parda. Mas a visibilidade não corresponde a isso. Combater o racismo significa, ao falar da Revolução Farroupilha, falarmos do massacre de Porongos. Significa, ao falar de arte no Brasil, citar Aleijadinho como negro. Ao falar de protagonismo, contar de João Cândido, que comandou a Revolta da Chibata, forçando a Marinha a abolir os castigos físicos. Precisamos dizer que Antonieta de Barros foi uma das primeiras parlamentares negras do País e que foi ela quem instituiu o 15 de outubro como Dia do Professor. Significa dizer que HAMILTON NAKI foi quem fez o primeiro transplante de coração, em dezembro de 1967, na cidade do Cabo. CHARLES DREW, um cientista negro, inventou uma forma para preservar e estocar o sangue, o que o levou a implantar o primeiro banco de sangue do mundo.

No terreno local, tivemos Alcemiro Santos, sambista; a família Barbosa, que organizava o concurso Mais Bela Negra
e trouxe artista nacional como Neguinho da Beija-Flor. São muitos os exemplos! É graças a essa luta pela visibilidade de negras e negros que temos o Canal Mundo Bita, no YouTube, que apresenta personagens negros nos desenhos. Graças a essa luta, temos âncoras negras e negros nos telejornais.

Precisamos cuidar da autoestima de nossas crianças e adolescentes. Para isso, eles e elas precisam se ver como belos, capazes de vencer desafios, capazes de serem produtivos e protagonistas. Reconhecer que, historicamente, pessoas brancas receberam vantagens e, por isso, são aceitas mais facilmente nos espaços é difícil. Essa consciência pode incomodar no início, mas é fundamental para que haja uma corresponsabilidade na construção de uma sociedade que
expresse igualdade de oportunidades.

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Uma das formas de combater o racismo estrutural é trazer histórias, livros, filmes e músicas produzidos e protagonizados por pessoas pretas para o cotidiano das crianças, reforçando a representatividade e identidade do povo negro todos os dias do ano. A lei federal 10.639, de 2003, estabelece conteúdos sobre africanidade a serem trabalhados nas escolas de Educação Básica e inclui, no calendário escolar, o dia 20 de novembro como “Dia
Nacional da Consciência Negra”. Isso é ótimo! Mas uma lei, por si só, não basta. Precisamos estar atentos e mobilizados para o cumprimento dela e à visibilidade que está sendo dada à etnia negra. Essa é uma atitude de negras, negros e não negros.

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