Mal ocorreram algumas flexibilizações nas regras impostas por causa da Covid-19, nos primeiros dias de temperaturas um pouco mais elevadas, antes mesmo da chegada da primavera, e já surgiram de várias partes reclamações quanto ao barulho em ruas e praças. O conflito na área urbana existe por tudo que é lugar. De um lado, aqueles que se sentem mais livres e melhores extravasando com som alto e outras formas de zoeira; por outro lado, os incomodados, que querem o sossego.
A cidade por si já é um ambiente ruidoso. Vivemos em uma cultura do ruído: gritos, alto-falantes, buzinas, motores, toque de celular, entre tantos outros. Difícil encontrar uma explicação científica para automóveis andando na rua com aquele tum…tum…tum… do alto-falante. Dá a impressão de que a qualquer momento vai cair uma porta ou outra peça do veículo. Pobres ouvidos de quem está dentro. E qual o prazer de andar em uma moto com o cano de descarga aberto? Somos seres racionais, mas os únicos animais que fazem barulho sem alguma razão aparente.
O barulho é tolerável em algumas ocasiões, quando não faz sentido sem ele. O que seria um jogo de futebol ou de basquete do União Corinthians sem o grito de incentivo da torcida ou as vaias aos adversários? Já em outros esportes, a torcida precisa ser mais contida. Quem não lembra do “uuuuhu…” a cada jogada de Gustavo Kuerten nas quadras de tênis nos torneios mundiais? Isso porque a plateia ficava em silêncio e apenas podia se manifestar após cada ponto. Quem não gosta de barulho certamente não frequenta estádios, ginásios, enfim, locais de esportes. Durante a pandemia, com os estádios vazios, não foram poucos os clubes que colocaram caixas de som para reproduzir o som da torcida.
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Jovens, geralmente, gostam de lugares mais agitados e barulhentos. Já com o passar da idade, muitas pessoas aos poucos preferem ambientes mais sossegados. É o ciclo da vida. Como tudo, o barulho tem hora e lugar certo. A poluição sonora é hoje um dos principais fatores de estresse para a população dos centros urbanos. Tem gente que se abala até com o badalar dos sinos ou o canto dos pássaros. No mundo moderno, o silêncio virou artigo de luxo. O novo complexo de lazer na orla do Guaíba, em Porto Alegre, mal foi inaugurado e já virou centro de polêmica por causa do barulho. Pobres peixes do lago Guaíba. Certamente os poucos que resistiram à poluição da água já buscaram mais sossego na outra margem.
Mas por que somos tão barulhentos? Em uma publicação de alguns anos atrás, o psicanalista Mario Corso explicou que essa é uma característica da cultura ocidental, que associa ruído ao prazer, ao gozo, à festa. Uma festa de verdade tem de produzir muito ruído. E isso se reproduz no dia a dia, conforme Corso. “Ser barulhento é a forma de legitimar que estamos gozando e somos bem-sucedidos”, analisa. Já no Oriente é o contrário: lá se valoriza o silêncio.
Como em tudo, limites são importantes para uma convivência harmônica. O prazer de um não pode ser o desprazer do próximo. E aí mais uma vez entra a educação das pessoas. Falar alto, som com volume exagerado nas ruas, gritos, algazarra e outras formas de barulho para muitos são uma maneira de exibir protagonismo e de mostrar importância, porque alguém nos dá atenção. Mas isso tudo é uma ilusão. Importante realmente é quem chama a atenção pelo seu modo discreto, pois mostra educação (e juízo), acima de tudo.
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