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ricardo düren

O Dia do Cabelo Maluco

Eis que surgiu em nosso calendário uma nova data comemorativa, até então desconhecida pela gente lá de casa: o Dia do Cabelo Maluco. Creio que boa parte dos pais já deve saber do que estou falando. Nessa data especial, que antecede o Dia da Criança, a garotada tem um salvo-conduto para ir à escola com os penteados mais inusitados, arrojados e esquisitos.

A febre surgiu há mais tempo, nos Estados Unidos, mas só agora fomos surpreendidos pela nova moda. No caso da escola das nossas gurias mais novas, o Dia do Cabelo Maluco foi na quinta-feira passada. As marotas adoraram, mas preciso registrar que para minha esposa, Patrícia, foi um sufoco.

Ocorre que quando se tem quatro filhos, as coisas meio que se atropelam – é um congestionamento de compromissos e tarefas que se interpõem –, e bem na véspera do Dia do Cabelo Maluco foi o aniversário de 13 anos da Isadora, a mais velha das três gurias. Então, passamos a primeira metade da semana dividindo o tempo entre as atividades cotidianas e o sagrado compromisso de preparar uma surpresa para a Isa: um bolo adornado com pequenas reproduções dos cartazes de estreia dos seus seriados prediletos, além de outras guloseimas.

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Só ao cair da noite de quarta-feira, foi possível avançar para a próxima missão do calendário – planejar o penteado das mais novas, para o dia seguinte. De início, imaginávamos que seria tarefa fácil. Contávamos com algumas latas de spray de tinta não permanente de cabelo, que haviam sobrado de outros carnavais e jaziam no armário das tralhas. Mas, quando a Patrícia foi testá-las no cabelo das pitocas, os sprays negaram fogo: emitiram um triste silvo – fiiiifff – e, de tinta, nada mais. Já não havia lojas do gênero abertas naquela hora. E agora?

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Por sorte, no mesmo armário de tralhas adormecia uma caixa recheada com estranhos adereços, também um legado de antigas festinhas – carnavais, aniversários, réveillons – de antes da pandemia. Dentro havia plumas coloridas, tiaras com topes e anteninhas, óculos coloridos com aros em forma de estrela, cartazes impressos com recadinhos bem-humorados (essa foto vai pro Face, Mamãe caprichou na festa, Dá um like…) e até um chapéu-coco azul, de plástico – que eu, particularmente, não lembro de ter usado. O jeito seria improvisar os penteados com aquelas coisas.

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O chapéu-coco foi logo descartado. A ideia era exibir os cabelos, não escondê-los. A caçula, Ágatha, decidiu então fazer uma experiência: enfileirou sobre a própria cabeça, juntas, todas as tiaras encontradas na caixa. Porém, olhou-se no espelho e não gostou do que viu:

– Mais parece um capacete alienígena…

A seguir, testou outra alternativa. Instalou sobre os cabelos uma saia de havaiana – mais uma herança de outros carnavais –, formando uma estranha peruca, com incontáveis fitas multicoloridas que lhe davam a volta pela cabeça, descendo até o pescoço. Mas também não aprovou a fantasia.

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– Não consigo ver nada com esse troço me cobrindo os olhos…

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Yasmin, por sua vez, tentou outra coisa. Perfurou um prato descartável e, pelo orifício, fez correr o próprio cabelo, preso em um rabo de cavalo. A ideia é que seu cabelo fosse permanecer enrolado sobre o prato, imitando um bolo de aniversário. Mas não tinha jeito de dar certo.

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– Desisto! – anunciou.

E a irmã mais nova concordou que ir com um bolo na cabeça não era muito recomendável:

– Poderia atrair formigas!

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Foi então que a Patrícia abraçou a causa para valer. Fez um coque na cabeça da Yasmin, preencheu-o com plumas de todas as cores e ainda enfiou entre os cabelos um óculos de aro de estrela. Para Ágatha, fixou em uma tiara um polvo de pelúcia, destes que mudam de rosto – ora bravo, ora alegre – quando virados do avesso. Teve o cuidado de deixar à mostra o rosto feliz do polvo, que permaneceria, assim, alegremente no topo da cabeça da traquinas, preso à tiara. O cabelo da marota culminou em uma longa trança, que precisava ser preenchida com alguma coisa também. Sugeri que colocassem flores das orquídeas, que ainda resistem ao avanço do mês de outubro em nosso quintal. Porém, Ágatha me repreendeu por tamanha ignorância:

– Desta vez não vamos de prenda! É Dia do Cabelo Maluco, não do Gaúcho!

Por fim, encontraram outros adereços de plástico – que não entendi direito o que eram – e os prenderam na trança. Como toque final, ambas passaram nos cabelos um gel com gliter. E, enfim, aprovaram o resultado.

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Porém, logo chegou a hora de dormir. Impunha-se desmanchar os penteados e recriá-los na manhã seguinte, antes de ir para a aula. Ou seja, havia ainda mais trabalho pela frente. Mas, por fim, deu tudo certo e, pelo que as gurias relataram, o Dia do Cabelo Maluco foi uma grande diversão na escola. Para nós, pais, ficou, mais uma vez, a sensação de dever cumprido. Entretanto, sem muito tempo para usufruir dessa reconfortante sensação, pois já vem outra missão pela frente: o Dia da Criança, na próxima terça-feira.

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