Depois de 19 meses, e acompanhado da esposa, voltei a encontrar dois casais de amigos. O “evento” ocorreu no último sábado, em Arroio do Meio, minha terra natal. Foi uma sensação incrível, muito difícil de reproduzir em palavras.
Confesso que no começo senti um misto de culpa e remorso. Afinal, estávamos reunidos entre seis pessoas em torno de uma mesa repleta de comida e bebida. Mas olhei ao redor e deparei com uma casa ampla, dotada de enormes janelas, habitada, onde todos os personagens estavam vacinados com as duas doses de imunizante.
Todos da turma eram sessentões. Velhos amigos de infância, parceiros de muitas décadas. O primeiro tema da pauta descontraída incluiu as conversas em torno das recordações do nosso último churrasco, um mês antes da pandemia. Em seguida, lembramos dos planos para viajar com um grupo com vários casais, talvez pelo Nordeste brasileiro. Também planejávamos encontros na praia nos finais de semana. Aquele programa tradicional que tanto nós, gaúchos, gostamos de fazer para encontrar nossos afetos à beira-mar.
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Tudo isso, no entanto, foi arquivado, junto com outros momentos comuns, que incluem aniversários e demais confraternizações, consequência da pandemia que sacudiu o mundo. Mesmo assim, todas as segundas-feiras vemos manchetes sobre ajuntamento de pessoas que ignoram o compromisso com a vida e a segurança dos outros. Em Porto Alegre, as aglomerações ocorrem sempre nos mesmos dias, horários e lugares, trazendo transtornos à Guarda Municipal e a outras forças de segurança.
Tão cedo não voltaremos aos hábitos antigos. Mesmo com o avanço da vacinação, muita gente vai rever a rotina para retomar o cotidiano aos poucos, revendo comportamentos, introduzindo mudanças. Muitos irão adotar novos procedimentos, principalmente em relação à higiene das mãos. São coisas simples, que aprendemos na escola e na infância, mas esquecemos ao longo dos anos.
O churrasco com cerveja gelada do final de semana serviu de reabastecimento emocional. Trabalhar várias horas todos os dias, confinado dentro de casa, nesta modalidade consagrada de “home office”, polarizou a pandemia. Além da falta de lazer, ócio e folga, esse massacre causa um desgaste silencioso e perigoso do qual nem sempre temos consciência. As consequências são irritação, depressão, cansaço crônico e desânimo generalizado, causados pelo isolamento.
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Rever os amigos, dar risada e recordar episódios felizes é combustível para não esmorecer. São 20 meses de incerteza que serviram de estímulo para elaborar balanços de vida, adequar projetos e viver o “aqui e agora”. A finitude se constitui em uma realidade cada vez mais presente, não apenas para sessentões como eu e meus amigos de churrasco.
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