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SOBRADINHO

Aos 80, duas novas companhias na pandemia: o tablet e a cachorrinha Sophia

Foto: Nathana Redin/Gazeta da Serra

Aos 17 anos, ela se tornou professora. Passou a lecionar escrevendo em quadros com giz. Com os alunos mais humildes, dividia as folhas do caderno de anotações. A carta, naquela época, era o principal meio de comunicação. O deslocamento ocorria de ônibus, no lombo do cavalo ou a pé, por longos quilômetros.

Algumas das descrições acima talvez sejam parecidas com as memórias de muitas pessoas nascidas no início ou em meados do século passado. Mas essa é de uma senhora em especial. Nascida em Lomba Alta, hoje Ibarama, Romilda Dalazen Donatti completou 80 anos nessa quarta-feira, 29, e, durante a pandemia, transformou hábitos antigos, aderindo cada vez mais à modernidade.

Quando jovem, a professora formada no colégio das Irmãs, em Ibarama, iniciou a carreira dando aulas em um armazém de propriedade de Aparício da Rosa, antigo endereço da Escola Espírito Santo, em Sobradinho. “Era uma casinha marrom. Não tinha nada, foram trazidas classes de outras escolas, também o quadro negro. Era uma pobreza naquela época, muitos não tinham nem caderno. Arrancava folhas do meu para dar às crianças”, recordou-se, mostrando que guarda até hoje cadernos de chamada feitos com papel almaço. Nesse local, lecionou por dois anos e foi transferida para uma escola ‘Brizoleta’, em Arroio Pilão. Naquela comunidade foi bastante acolhida, acomodando-se na casa de uma família de alunos durante os dias da semana.

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Romilda Donatti e as recordações das décadas passadas, entre elas a escola ‘Brizoleta’ e os alunos

A profissão foi substituída quando casou e voltou a residir em Lomba Alta, pois na localidade a escola viria a ser estadual e para lecionar eram necessários mais graus de estudo, dificultados pelos escassos horários de ônibus. Foi assim que passou a se dedicar à agricultura e a família, ao marido Darci (in memoriam), filhos Cidinei e Anerlisi, ajudando a cuidar de alguns sobrinhos e também da sogra. “Tempo antigo quase não se tinha máquinas, era um aradinho e enxada. Havia muitas dificuldades, não se tinha muito conforto, mas a gente era tão feliz”, revelou.

Há alguns anos, após ter ficado viúva, fixou residência em Sobradinho, próxima dos filhos e dos netos. Considerada uma pessoa ativa, integrante de clube de mães, de coral e grupo da terceira idade, nos últimos anos poucos eram os horários vagos na agenda da aposentada que sempre fez questão de participar socialmente, inclusive sendo catequista. Infelizmente, com a chegada da pandemia de coronavírus, as atividades foram sendo canceladas e permanecer em casa logo foi necessário.

O isolamento e as tecnologias

Apaixonada por leituras e viagens, para Romilda, manter-se atualizada sempre foi essencial. Para isso, jornais, revistas e bons livros, assim como a televisão e o rádio, têm sido companheiros há décadas. Entre eles a Gazeta da Serra, da qual é assinante há aproximadamente 30 anos. É através destes meios que se mantém informada e também aproveita para se entreter com as novelas. Só que foi com a pandemia que o uso das novas tecnologias deu um salto na vida dela.

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Dona Romilda, que não usava sequer telefone residencial, quem dirá celular, principalmente devido a problemas auditivos, rendeu-se às redes sociais, como WhatsApp e Facebook. A ferramenta que veio para lhe auxiliar com isso foi o tablet, aquisição que tem indicado para as amigas. Através da tela maior que a de um telefone e, instintivamente com o toque dos dedos, agora consegue se comunicar com mais facilidade com familiares e amigos, e inclusive, pagar as contas on-line. “Com a pandemia, apenas em casa, meus netos me incentivaram a comprar um tablet. Foi muito bom. Eu gosto de escrever, então comecei a me comunicar com os familiares de perto e os de longe, em Porto Alegre, em Santa Catarina, Goiás”, contou.

Segundo a nora, Débora, o primeiro dia em que a auxiliaram em uma videochamada foi emocionante. “A vó chegou a chorar ao poder ver a pessoa que está distante através da tela. Ela não sabia nada dessa tecnologia, nunca havia usado computador, nem mesmo celular”, mencionou Débora. “Eu dizia, já que não escuto bem, nem vou aprender nada, nem vou querer”, acrescentou Romilda que revelou ter sido fácil o aprendizado, o suficiente para o que necessitava, mas está sempre evoluindo.

Entre os destaques de conteúdos favoritos, estão videoclipes de músicas antigas, programas de rádio e as missas transmitidas ao vivo, além de assistir às aulas de dança da terceira idade e pilates. Com o auxílio da visão, une a audição à leitura labial, para compreender o que está sendo falado. Neste sentido, os vídeos têm lhe facilitado mais a compreensão. Para a neta Anna Regina, 23 anos, que atualmente mora em Goiás, a companhia virtual da avó se tornou aliada para amenizar a saudade. “O mais importante para ela foi se aproximar as pessoas, os netos, os sobrinhos. Com o tablet, reencontrou amigas de infância nas redes sociais. Ela sempre foi muito ativa, parceira dos netos”, destacou a jovem.

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Contudo, a avó ganhou mais uma companhia especial nesta pandemia, a Sophia, cachorrinha fofa que circula pela casa, que ela jamais imaginou ter algum dia.

Romilda com a neta Anna Regina, com quem conversa pelo WhatsApp quando a jovem está em Goiás

Dona Romilda, que gosta de comemorar seu aniversário, reuniu, neste ano, apenas os familiares mais próximos. Para o ano que vem, espera poder celebrar com mais gente e retornar às atividades que gosta. “Que Deus me dê saúde para fazer uma festa bem bonita, bem grandinha”, enfatizou a idosa. A tecnologia tem ajudado e muito, mas a presença da família, sempre que possível, concorda, é insubstituível.

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