Comida, gasolina, conta de luz, gás… tudo está mais caro. E, a continuar a atual conjuntura – commodities em alta, escassez de alguns itens em decorrência da paralisação de atividades por causa da pandemia da Covid-19 ou por problemas do tempo (geadas, falta ou excesso de chuvas), crise hídrica cada vez mais acentuada (aumento da conta de luz), turbulências políticas (influencia na alta do dólar) – não há perspectiva de melhora a curto prazo.
Falar sobre inflação é recorrente até mesmo em rodas de conversa informal. Sem entrar em questões acadêmicas – se é causada pela expansão monetária ou por demanda –, todos sabem que inflação é o aumento de preços. Com o mesmo valor de dinheiro, quanto compramos hoje comparado a um tempo atrás, que não precisa ser longo? Só que aumento de preço de um ou mais alguns produtos ainda não caracteriza um processo inflacionário. Pode até levar a isso quando se generaliza, o que parece que estamos começando, de novo, a vivenciar. Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,87%, a maior taxa para este mês, em 21 anos. Com esse número, o acumulado do ano já passa de 5,67%; em 12 meses, 9,68%.
Mesmo já sendo taxas oficiais altas, comparadas às dos últimos anos, na prática, entretanto, parece que não espelham o aumento real do custo de vida da maioria das pessoas. Será que há manipulação na apuração ou divulgação do índice de inflação no Brasil? Muitas pessoas acreditam que sim; algumas até afirmam isso abertamente.
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A inflação oficial do Brasil, anunciada no início de cada mês pelo governo, é calculada pelo IBGE de acordo com a variação do índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), tendo como base de pesquisa o consumo das famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos, residentes em 8 regiões metropolitanas, além das cidades de Goiânia e Distrito Federal. Esse indicador leva em consideração a alta ou queda nos preços para o consumidor final de 465 itens, divididos em categorias de produtos de consumo e serviços – alimentação, transporte e comunicação, despesas pessoais, vestuário, habitação, saúde e cuidados pessoais, artigos de residência. Cada um desses grupos entra com um peso específico na composição do índice, sendo o mais representativo o da alimentação, com 25,21%.
O fato de algum item da alimentação, por exemplo, ter sofrido, por alguma razão, aumento de 30% ou 40%, num mês, pesa no IPCA daquele mês, mas apenas proporcionalmente ao que o ele representa dentro do grupo.
Mas, a inflação nem sempre é percebida pelo aumento dos preços. Em alguns casos, o produto mantém o mesmo preço, mas a embalagem conta com menos unidades ou vem com pesos e medidas menores do que a formatação anterior.
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Antes que alguém pense tratar-se de mais um exclusivo “jeitinho brasileiro” de aumentar o preço, a prática existe também em outros países. Em inglês, é conhecida como “shrinkflation” e pode ser traduzida como “reduflação”. É uma estratégia de indústrias de diminuir o peso, a medida ou a quantidade de itens para não aumentar o preço. Na prática, entretanto, fica mais caro para o consumidor porque está recebendo menos pelo mesmo dinheiro.
No mercado, a Folha de São Paulo identificou vários casos de redução de quantidade ou de peso, com barras de chocolate e caixas de bombons, pacotes de açúcar, caixas de ovos e embalagens de carne. Um item que chamou a atenção foi o sabão em pó, da fabricante Omo. A caixa tradicional de 1 kg está sendo substituída por caixas menores, mas com o mesmo preço, sob a alegação de nova fórmula que faria o sabão em pó render mais.
De qualquer maneira, essa estratégia disfarça a inflação. Além do mais, qualquer alteração de quantidade e peso precisa ser informada, não apenas no mesmo lugar onde constava o dado anteriormente, mas em destaque. Em São Paulo, uma lei estadual obriga as empresas daquele estado a ocuparem pelo menos 20% da embalagem com um alerta em caso redução de peso, medida ou quantidade.
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Então, além da inflação oficial e da disfarçada, existe ainda a inflação real. Esse índice, geralmente é maior, dependendo da faixa de renda e itens de consumo, e precisa ser apurado por cada pessoa ou família. Famílias com rendas menores gastam maior parte com alimentos, gás, transporte, energia elétrica, justamente itens de maiores altas. Na verdade, o principal vilão das finanças da população é a inflação real para o qual não existe índice oficial.
Por isso, é hora de repensar os hábitos de consumo, principalmente em relação aos itens que estão tendo maiores aumentos. A recomendação é começar a fazer um minucioso diagnóstico da vida financeira pessoal ou familiar. Durante um mês (se a renda for fixa) ou três meses (se for variável), anotar todos os gastos realizados.
Com base nesse levantamento, pesquisas comprovam que já é possível eliminar de 20% a 30% de gastos desnecessários ou desperdícios, sem mexer no padrão de vida. Depois, é possível promover substituições por produtos de menor preço.
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Por fim, Reinaldo Domingos – PhD em Educação Financeira, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e da DSOP Educação Financeira, além de autor de diversos livros – listou 7 dicas para enfrentar esses tempos de inflação mais alta:
1ª) economizar ao utilizar o veículo próprio, aplicativos ou o transporte público;
2ª) otimizar as saídas ou compartilhar o transporte com colegas, vizinhos, amigos;
3ª) rever o uso do chuveiro, luzes acesas, televisão e computador ligados, acesso frequente à geladeira;
4ª) negociar pontos do celular e internet; se for o caso, buscar a portabilidade com outra operadora;
5ª) reciclar produtos;
6ª) fazer listas de compras e ir ao supermercados sem as crianças;
7ª) comparar preços.
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