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OPINIÃO

Otto Tesche: remando contra a maré

As Olimpíadas de Tóquio terminaram e desde o início da semana passada foi possível voltar ao fuso horário normal. Apesar de toda a cobertura dos jogos e das competições, onde a qualquer horário foi possível conferir os principais resultados, a emoção é maior quando assistimos às performances dos atletas no exato momento das disputas. E, como no Japão é dia enquanto aqui faz noite, foi necessário remar contra a maré para ver as principais modalidades esportivas. Mas brasileiro vive se adequando ou reinventando, como se tornou comum afirmar desde o início da pandemia. A cada mês, grande parte da população rema, rema e rema para pagar as contas e ainda colocar o pão de todo dia na mesa.

Caso as Olimpíadas incorporassem outras modalidades além das esportivas, os brasileiros seriam bons candidatos a medalhas na reinvenção pela sobrevivência. Já passamos por tantas crises, e agora o reflexo econômico da pandemia do novo coronavírus colocou grande parte dos setores produtivos e a população em uma pequena canoa remando contra as ondas de um tsunami. Para administrar a empresa e/ou a cozinha doméstica, não basta pós-graduação, mas muito contorcionismo, flexibilidade, jogo de cintura e criatividade.

Aqueles que costumam ir aos supermercados certamente notaram a escalada nos preços de diversos alimentos. Mas o susto é maior ao resgatar algumas notas dos primeiros meses do início da pandemia, a partir de abril do ano passado, e fazer o comparativo dos valores pagos nas últimas semanas. O óleo de soja, por exemplo, está quase 100% mais caro. E o preço da carne bovina está mais salgado que a água do Mar Morto. A costela e a paleta aumentaram quase 50% e o bife do coxão de dentro, em torno de 70%. Os cortes de frango também tiveram alta bem superior ao índice da inflação. Resta como alternativa o ovo, que neste momento está com o preço praticamente igual ou levemente superior ao mês de abril do ano passado. Mas esse não dá para assar num espeto aos domingos ou em dias festivos.

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Outros itens também assustam, como o arroz (aumento superior a 30%), leite (mais de 25%), queijo muçarela (75%). Sem falar na gasolina, que teve alta de quase 60%. Claro que há alguns produtos com reajustes menores e até com queda no preço, dependendo da época e da oferta, como frutas e verduras. Economizar para fechar o orçamento mensal virou um exercício bem complexo. Vale sempre a pesquisa nos anúncios dos supermercados na Gazeta do Sul, pois dá para encontrar algumas boas diferenças de preços para os mesmos produtos.

Pior é que esses aumentos dificilmente representam mais dinheiro no bolso de quem está na outra ponta, o produtor. E as contas de Matemática não fecham para os trabalhadores que tiveram redução salarial, perderam as fontes de sustento, os servidores públicos que estão há anos sem reajuste salarial e tantas famílias que vivem com dificuldades financeiras. Assim, mais do que nunca, a medalha mais aguardada neste momento por toda a população vem com uma seringa, com a vacina, para que, aos poucos, se possa retomar a rotina normal e, em consequência, os setores produtivos voltem a operar na plenitude e tragam esperança de dias mais tranquilos e fartos.

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