Dois adversários travam um combate físico intenso, duro, em que um tenta derrubar o outro. Ao término da luta, o vencedor ajuda o oponente a se erguer e ambos trocam cumprimentos, em clara demonstração de respeito mútuo. Cena tão incomum assim só pode ser vista em eventos esportivos, especialmente no maior deles: os Jogos Olímpicos. No judô ou no taekwondo ou no boxe, vitória não tem nada a ver com desprezo.
Se pudéssemos sintetizar o famoso “espírito olímpico” em apenas uma frase, talvez ela fosse: o adversário não é seu inimigo. Uma ideia quase transgressora em tempos como os de hoje, de animosidade, covardia e falta de nobreza.
Mas foi esse espírito que animou, por exemplo, as atletas da ginástica artística nessa quinta-feira, 29, em Tóquio. Entre uma prova decisiva e outra, elas cumprimentavam e até abraçavam suas rivais de outros países. Porque a ideia de “dar o seu melhor” significa mais do que o triunfo em uma Olimpíada.
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No fim de tudo, o pódio foi multicultural: uma russa com o bronze, uma brasileira negra com a prata e uma asiática que conquistou a medalha de ouro para os Estados Unidos. Sunisa Lee, a campeã, é filha de imigrantes que vieram do Laos na década de 1970, durante uma guerra civil em que membros de seu grupo étnico – os Hmong – foram perseguidos. Após passagem por um campo de refugiados na Tailândia, seus pais conseguiram chegar aos EUA, onde a ginasta nasceu.
E não menos admirável, certamente, é a trajetória da brasileira Rebeca Andrade, da periferia de Guarulhos (SP) até o pódio olímpico. A segunda melhor atleta do mundo em sua modalidade. Histórias que os Jogos trazem à luz.
Sabemos, então, o que as Olimpíadas representam: superação, comunhão, respeito às diferenças, lealdade e respeito. Logo, também podemos imaginar o que é incompatível com tudo isso. Em 1936, os Jogos aconteceram na Alemanha de Hitler, que pretendia fazer do evento uma demonstração inquestionável da “superioridade ariana”. Mas ele foi surpreendido pelas vitórias de um velocista negro chamado Jesse Owens, que ganhou quatro medalhas de Ouro em Berlim. Ainda ficou célebre a amizade entre Owens e o atleta alemão Carl “Luz” Long, pouco afeito às ladainhas raivosas e mentirosas do nazismo. Porque – tanto em 1936 como hoje – há coisas incompatíveis.
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