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Trabalho que não pode parar: como é a rotina no Corpo de Bombeiros de Santa Cruz

Foto: Rafaelly Machado

São 8 horas de 30 de junho de 2021. É um dos dias mais frios dos últimos tempos no Rio Grande do Sul. Muitos acordaram e já estão na lida. Outros estão levantando da cama ou saindo de suas casas para dar início à rotina de mais um dia de trabalho. É nesse horário, também, que ocorre a passagem de serviço no Corpo de Bombeiros Militar de Santa Cruz do Sul. Embora o grupo que entra para mais 24 horas de atividades de prevenção e salvamento seja uma nova guarnição, a passagem de serviço é um procedimento que dá a ideia de continuidade, daqueles que, em nenhum momento, podem parar.

Na última semana, de 28 de junho a 2 de julho, foi lembrada a Semana Nacional de Prevenção Contra Incêndios. Durante esses dias, o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) realizou diversas atividades, como simulações e treinamentos, em diferentes municípios. Além disso, nessa sexta-feira celebrou-se o Dia do Bombeiro. Para entender como esses profissionais atuam, a Gazeta do Sul acompanhou um dia da rotina de trabalho no Pelotão do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Cruz.

Durante o acompanhamento, a equipe de reportagem presenciou dois atendimentos pré-hospitalares (APHs), uma remoção de pessoa idosa, além de apoio em teste de aptidão física (TAF) da Brigada Militar. Foi possível perceber parte de uma outra realidade, ligada à atuação dos profissionais com cachorros de busca, e a relação de amizade construída entre os colegas.

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Continuidade para garantir eficácia

Das 8 horas de 29 de junho às 8 horas do dia 30, a guarnição é comandada pelo sargento Jair Schmitz, de 51 anos, 30 de serviço. Ao fim das 24 horas ininterruptas de trabalho, ele faz a passagem para a guarnição comandada pelo sargento João Antônio Cides, de 51 anos e 33 de serviço. A partir disso, até as 8 horas de quinta-feira, 1o de julho, são os homens coordenados por Cides que ficam de plantão caso alguém necessite de socorro.

Durante o ato militar, o sargento Schmitz relata o que aconteceu durante as últimas horas de trabalho. “Foi tranquilo, até por causa do frio. Saímos apenas no início da noite e não fomos mais acionados depois das 22 horas. Saímos para uma vistoria em árvore e um acidente entre carro e moto, no qual o motociclista teve uma fratura exposta e foi encaminhado ao hospital”, resume.

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O tenente Evandro Leal, de 40 anos, comandante do Pelotão do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Cruz, explica que a formalidade da passagem ocorre para que o trabalho seja contínuo. “Essa é a ideia: troca a guarnição, mas o serviço sempre vai continuar. Ele vai dizer na frente de todo mundo o que aconteceu para que não precise ficar falando individualmente. Por mais que tenha uma formalidade, que faz parte, há uma grande fundamentação na eficácia do serviço e funciona muito bem.”

Faz parte também dessa primeira hora de atividade uma conferência nos materiais e viaturas, para garantir que, se for necessário prestar qualquer atendimento, tudo estará em conformidade. “É de praxe, dando ou não ocorrência. E o grupo é muito dedicado, eles sempre conferem tudo”, completa o tenente.

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Quando o telefone toca

Após quase 30 anos de serviço, com especialidade em corte de árvores, o sargento Loivo Hoffmann, de 52 anos, no momento atua na Sala de Operações, atendendo ao telefone e registrando as ocorrências no sistema. Fixada em um dos vidros do cômodo, uma arte explicativa detalha como se deve realizar a Manobra de Heimlich, considerado o melhor método pré-hospitalar de desobstrução das vias aéreas superiores.

A técnica é responsável por salvar principalmente bebês e crianças engasgadas e, segundo Hoffmann, o problema, na maioria das vezes, pode ser resolvido por telefone. “Mas temos uma grande dificuldade, que é acalmar a pessoa. Se é a mãe que liga, ela deixa o pânico tomar conta. Você explica, mas ela não absorve, não consegue compreender. Muitas vezes perguntamos se tem alguém do lado que pode ajudar.”

O comandante do pelotão, tenente Leal, atribui o sucesso dos atendimentos por telefone ao “temporesposta” e ao fato de o telefonista ser uma pessoa dedicada. “É um salvamento. A gente acalma a pessoa, dá a orientação e, em questão de minutos ou segundos, conseguimos reverter uma situação de via aérea e evitar uma parada cardíaca na criança.”

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Os profissionais explicam que o Corpo de Bombeiros é acionado para os mais diversos e inusitados tipos de atendimento, desde o cachorro preso em uma grade até o incêndio em um prédio com vários moradores. Por vezes, conforme os servidores, é difícil explicar à comunidade que nem sempre é possível atender a todas as demandas, já que muitas não são atribuições dos bombeiros.

Durante conversa com a equipe de reportagem, às 10h38 do dia 30, o telefone toca. Prontamente, é atendido. Do outro lado da linha, uma professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Guido Herberts, no Bairro Várzea, relata que uma aluna passou mal e está desacordada. Em menos de cinco minutos, o motorista da viatura de resgate, sargento Luis Fernando Lopes, de 43 anos, e o soldado César Augusto Christmann, de 32, deslocam-se e chegam para realizar o atendimento. A adolescente de 16 anos é encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), a princípio, com uma crise de ansiedade.

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Já durante a tarde, por volta das 14 horas, enquanto os dois bombeiros realizam o apoio ao TAF da Brigada Militar (para o caso de alguém passar mal), são também acionados para atender uma idosa de 94 anos, na Travessa São Rafael, esquina com a Avenida Paul Harris. Rapidamente, a ambulância chega à residência e leva até a UPA a senhora, que sofre de diabetes e teve um mal súbito. Quando os bombeiros estão finalizando o trabalho nessa última ocorrência, a filha de uma idosa de 90 anos pede: “Vocês podem levar minha mãe em casa? É aqui pertinho, ela não caminha”. Remoções como essa não são comuns, mas acontecem, segundo o soldado Christmann. O sargento Luis Fernando conta que, ao deixar a idosa em casa, ela agradeceu muito a ação. “Tu sente que é de coração. Ela veio quietinha, esperou, e na hora certa agradeceu.”

Amigo do homem e trabalhador em buscas

Barney e Safira, dois cães da raça Labrador, são treinados na técnica de venteio, na qual o animal faz a busca sem odores de referência. “Fazemos busca de desaparecidos, focada mais em pessoas vivas. Aqui em Santa Cruz a gente utiliza o venteio de pessoas vivas, quando o cão vai procurar o odor de alguém em um ambiente de matagal ou estrutura colapsada. Ele vai procurar o odor de uma pessoa escondida e indicará latindo”, explica o soldado Douglas Koneger, 31 anos.

Os cachorros são de dois bombeiros condutores – como são chamados os tutores dos cães. Após cumprirem sete a dez anos de serviço, dependendo do condicionamento físico, os cães “se aposentam” e ficam sob a guarda dos condutores.

Trabalho preventivo que garante segurança

Um importante trabalho que também é feito pela corporação é o de prevenção, analisando, vistoriando e garantindo a segurança dos espaços. O sargento Vinicius Botlender explica que os servidores realizam vistorias ordinárias, que são as solicitadas para regularização, e as extraordinárias, que chegam através de denúncias. As vistorias são feitas na área de atuação do Pelotão do Corpo de Bombeiros de Santa Cruz, que abrange 14 municípios: além de Santa Cruz, Vera Cruz, Rio Pardo, Candelária, Vale Verde, Passo do Sobrado, Herveiras, Sinimbu, Passa Sete, Lagoa Bonita do Sul, Sobradinho, Segredo, Arroio do Tigre e Ibarama. Mas a Seção de Prevenção é também responsável pela análise de Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndios (PPCI) de toda a região do 6o Batalhão de Bombeiro Militar, com abrangência de 61 municípios. Atualmente, o PPCI deve ser entregue fisicamente na Seção, na Rua Tenente-Coronel Brito, 03, em Santa Cruz do Sul. O atendimento ao público, por enquanto, é feito apenas na tarde e é preciso agendar horário pelo (51) 3719 7924.

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Colegas que viraram família

Os sargentos João Antônio Cides, de 51 anos, e José Antônio Borba, de 55, são contemporâneos. Os dois têm em média 30 anos de carreira e convivem juntos no quartel desde 1991. “É uma vida. Eu convivo muito mais com ele do que com meus próprios irmãos”, observa Borba, que é o responsável da guarnição por dirigir os caminhões.

Os sargentos Loivo Hoffmann e Luis Fernando Lopes também compartilham as experiências de veteranos. ”Eu e o Hoffmann, por exemplo, servimos no quartel juntos lá em Santa Maria. Conhecia ele muito antes. Hoje eu sou mais antigo que eles, mas nossa amizade, no caso de uma ocorrência, é muito maior que a antiguidade. Claro que se eu tiver que xingar, vou xingar, mas nosso consenso em ocorrências, por sermos amigos, é muito grande”, comenta Cides, comandante da guarnição. “O que vale de toda essa caminhada é isso aí, a amizade que você faz”, completa.

Piseg

O comandante do 6º Batalhão de Bombeiro Militar, tenente-coronel Claiton Fernando Marmitt, salienta que atualmente a corporação pode contar com o Programa de Incentivo ao Aparelhamento da Segurança Pública do Rio Grande do Sul (Piseg RS). Inédita no Brasil, a lei de incentivo visa possibilitar às empresas estabelecidas no Estado a compensação de valores destinados ao aparelhamento da segurança pública com valores correspondentes ao ICMS a recolher, verificado no mesmo período de apuração dos repasses.

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