A sinalização do governo do Estado para investimentos em estradas e rodovias gaúchas trouxe esperança para líderes políticos do Vale do Rio Pardo, que esperam a viabilização de pavimentações e outras melhorias em estradas da região. Uma delas é a ERS-244, que liga Venâncio Aires a Vale Verde e se encontra abandonada. No trecho de 16 quilômetros não pavimentados que corta o município de Passo do Sobrado, chamam atenção três grandes pontes e galerias, construídas há duas décadas, no governo de Antônio Britto, que nem sequer têm cabeceiras e, portanto, não levam a lugar algum.
A deterioração da estrada e a falta de sinalização, além de prejudicar a trafegabilidade de quem mora nas redondezas, também comprometem o escoamento da produção agrícola, pois dificultam a logística entre os vales do Taquari e Rio Pardo com as regiões Carbonífera e Metropolitana. O engenheiro agrônomo e proprietário da Fazenda Santo Antônio, localizada na Várzea dos Camargo, no interior de Passo do Sobrado, Vitorino Marodin, de 57 anos, conta que é quase um desafio se deslocar pelo trajeto. “A construção das pontes teve início na época em que com-pramos a fazenda. Pouco tempo depois, após dezembro de 1999, houve troca de governo e o serviço parou. De lá para cá, faz 21 anos em que não foi feito mais nada. A estrada está abandonada, e o desleixo e a falta de manutenção são de todos os lados”, queixa-se.
Marodin tem uma agroindústria na propriedade, onde são fabricados molhos orgânicos, geleias e outros, com comercialização em diversos estados, como São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Goiás. Também são cultivados tomates grape, vendidos na Serra Gaúcha e em alguns municípios do Vale do Rio Pardo.
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Contudo, segundo ele, a precariedade da estrada tem atrapalhado cada vez mais os negócios. “Toda semana temos que usar a estrada para levar os produtos às transportadoras, e tem gente que não quer mais entrar aqui. Eu compro as embalagens de vidro e tenho que ir buscar, eles se negam a trazer”, comenta. “A gente fica triste de ver isso, pois a nossa região tem vários produtores de soja e de outras culturas e criação de gado. Aqui é uma região de recolhimento de ICMS forte, comparado com outras localidades, e estamos abandonados”, afirma.
Só na esperança
Para a agricultora Janice Andreia de Moraes, 40 anos, que reside há 22 anos na localidade, a pavimentação da estrada significaria dias melhores. Além da precariedade da via, que muitas vezes danifica os veículos, a enchente em dias de chuva forte bloqueia parte do acesso. “Eu casei e vim morar aqui na época em que as pontes estavam sendo construídas. Passávamos somente de trator naquele trecho. Daí fizeram as pontes para resolver o problema da enchente, mas nada foi resolvido, não servem para nada”, conta.
Para desviar dos trechos alagados em períodos de cheia, a moradora – que costuma percorrer cerca de seis quilômetros até o trevo de Venâncio Aires –, tem que rodar por uma distância quatro vezes maior, de 25 quilômetros. “São de dois a três dias de estrada interditada até que a água baixe, então fazemos a volta por Passo do Sobrado. Além da distância ser maior, tem pedágio para pagar. Tenho esperança de que meus filhos ou netos possam ver essa obra concluída, porque entra governo e sai governo, e é só promessa”, afirma.
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Comissão discute alternativas com a Secretaria de Transportes
Na tarde dessa terça-feira, 22, integrantes da comissão pela ERS-244, acompanhados do secretário-ad-junto de Obras e Habitação do Estado e ex-prefeito de Venâncio Aires, Giovane Wickert (PSB); do prefeito de Vale Verde, Carlos Gustavo Schuch (MDB), e lideranças políticas dos municípios de Passo do Sobrado e Venâncio Aires, estiveram reunidos com o secretário adjunto de Logística e Transportes, Luiz Gustavo de Souza, e com o diretor-geral do Daer, Luciano Faustini. A audiência, que ocorreu na Assembleia Legislativa no fim da tarde, também contou com a presença de deputados estaduais e federais. A ideia foi solicitar a inclusão da ERS-244 no pacote de investimentos de R$1,1 bilhões em estradas anunciado recentemente pelo governador Eduardo Leite.
De acordo com Wickert, a empreiteira Pelotense, detentora do contrato de construção da estrada, já demonstrou interesse na retomada das obras. A proposta seria usar os recursos da venda de um horto da CEEE-D próximo da região, avaliado em R$ 17 milhões, para a retomada dos serviços. “Nosso encontro foi bem favorável e na quinta-feira teremos visita dos empreendedores na área. Se eles demonstrarem interesse e se isso evoluir, depois dos trâmites legais, teremos a retomada da obra”, destaca. Outra possibilidade, segundo ele, é de o governo do Estado vender mais algumas ações de estatais que permitam um incremento no caixa. O grupo também deverá se reunir nos próximos dias com Eduardo Leite. O presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços (Caciva) de Venâncio Aires, Vilmar Oliveira, ressaltou que a obra é uma reivindicação antiga da comunidade. “Ela vai ligar os vales, vai encurtar o caminho, principalmente, para o Porto de Rio Grande. Não vai beneficiar somente a nossa região, mas também a do Vale do Taquari’, observou Oliveira.
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