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Entrevista: tecnologias de comunicação evoluem, mas o rádio ainda mantém seu espaço

Ferraretto: internet trouxe a possibilidade de transmitir notícias para qualquer lugar

Com o avanço da tecnologia e proliferação das mídias digitais, a percepção inicial era de que as demais mídias perderiam espaço, inclusive o rádio. No entanto, esse veículo tradicional e imprescindível na vida das pessoas aprendeu a se adaptar a todas as circunstâncias, e se deslocou para dentro dessas mídias sem perder a sua originalidade.

O professor do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Ufrgs, que também é responsável pelo Núcleo de Estudos de Rádio da Ufrgs, Luiz Artur Ferraretto, deu entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9 no Programa Rede Social. Segundo ele, um dos principais benefícios que a tecnologia trouxe para o rádio foi o rompimento de barreiras de alcance. “O rádio se reinventou sem perder sua essência. Através da internet, ampliou-se a possibilidade de receber as informações trazidas por ele em qualquer lugar do mundo. Além disso, o uso das redes sociais é bom, pois elas mantêm o contato direto com seus ouvintes, que interagem com os locutores”, ressaltou.

Contudo, para o especialista, a relação do rádio com a as redes sociais pode ser problemática, se as informações que chegam a todo momento por meio das diversas plataformas não forem utilizadas de maneira correta. “Nos últimos dez anos, muitos estão fazendo um mau uso das redes sociais. Estão confundindo a liberdade de dizer qualquer coisa, tendo a razão ou não tendo, com liberdade de expressão. Quem faz rádio, faz um trabalho sério e profissional. E nas redes sociais, além de informação profissional, existe também muito conteúdo amador, com intencionalidade muito ruim, que pode ser até feito por um robô. Então, é importante termos esse cuidado”, acrescentou.

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Luiz Artur Ferraretto
Professor do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Ufrgs

Gazeta – A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) autorizou a migração de 364 rádios AM para a frequência FM ainda neste semestre. Como você avalia esse processo de transição e quais as vantagens?

Luiz Artur Ferraretto – O processo de migração das rádios AM (amplitude média) para a faixa FM (frequência modulada) deu um novo e importante passo. Significa o futuro, porque a maior parte dos ouvintes está no FM. E o FM está no celular e no aplicativo, pode ser acessado de qualquer lugar. Avançamos na medida em que temos uma banda com frequência modulada com mais qualidade no áudio na programação, além de maior alcance, o que permite explorar seu negócio com maior eficiência. E o rádio é isso, ele se adapta à realidade disponível para a comunidade e às necessidades que vão surgindo.

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Qual a característica que faz com que esse veículo seja tão forte e resistente, mesmo com o advento da internet?

Uma das características que tornam o rádio tão importante e imprescindível é a de transmitir a informação com mais rapidez do que qualquer outro meio. Ele foi o primeiro dos meios de comunicação de massa que deu imediatismo à notícia, pela possibilidade de divulgar os fatos no exato momento em que eles ocorrem. Com a convergência digital, o rádio se reinventou, ele mudou sem mudar sua essência. Adaptou-se sem modificar seu parâmetro de transmitir informação por som. E permite que as pessoas façam outras atividades paralelas quando estão recebendo essa informação, diferentemente de outras mídias. Em outras palavras, ele me acompanha no meu dia a dia, e dificilmente existirá um outro veículo que permita fazer isso com tanta liberdade.

Qual o futuro do rádio?

O futuro do rádio está hoje muito relacionado à forma como ele é administrado e a forma como ele é feito. Se você transforma esse rádio em veículo onde verdadeiramente todos os pontos de vista tenham acesso, você contribui para a democracia. Agora, se você vai na onda das bolhas de internet, dos clubes de ódio, em vários campos ideológicos, você vai contra o estado democrático de direito. O rádio tem esse papel, de trazer várias vozes. Além disso, o alcance dele é muito grande.

Como levar a informação plural e concreta diante de tanto negacionismo?

Em alguns momentos, percebe-se que as pessoas faltam com o respeito com o profissional do rádio ou de qualquer outra mídia. Questionam se ele é de direita ou de esquerda, o que não deveria ser um problema. Acredito que, como sociedade, vamos superar tudo isso, mas com conhecimento. Pois o jornalismo, construído em cima de dúvidas momentâneas que precisam ser trabalhadas para se transformar em certo nível de verdade, acaba sendo confrontado com certezas que beiram a fé e um fanatismo monumental. O desafio deste momento é ultrapassar a pandemia e o negacionismo que está relacionado a ela. E o rádio, por ser um veículo popular e próximo das pessoas, tem um papel fundamental no combate à desinformação e na manutenção do estado democrático de direito no Brasil.

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