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REGIÃO

Riva, o homem que transporta a esperança

Foto: Pedro Garcia

Motorista há 12 anos, sente o peso da responsabilidade: “Tem gente que nem dorme”

Desde janeiro último, Rivaldave Koch é uma peça fundamental na engrenagem que move o combate à pandemia no Vale do Rio Pardo. Em meio ao batalhão de profissionais mobilizados para afastar a Covid-19 na região – dos médicos e enfermeiros da linha de frente nas UTIs aos gestores públicos que planejam a logística da imunização –, o papel deste santa-cruzense de 51 anos pode até passar despercebido, mas o fim da crise sanitária que assombra o planeta há mais de um ano também passa por ele. Afinal, é por meio dele que as vacinas, único antídoto real contra o vírus, chegam até nós.

Para que possam ser colocados à disposição da população, os imunizantes enviados pelo Ministério da Saúde aos estados precisam antes ser distribuídos a todas as regiões – o que, no caso do Vale do Rio Pardo, é feito por via terrestre. Motorista da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Riva, como prefere ser chamado, tem a missão de buscar as remessas em Porto Alegre e transportá-las em segurança até Santa Cruz. Como o escoamento das doses ocorre a conta-gotas, as idas e vindas até a Capital tornaram-se frequentes.

Não se trata de uma novidade para Riva, que já foi condutor de ambulância e é funcionário há 12 anos da empresa licitada para atender a coordenadoria. Durante esse período, viagens sempre fizeram parte de sua rotina, seja para buscar cargas de medicamentos e vacinas ou levar servidores para compromissos fora da cidade – o que se tornou mais raro desde o início da pandemia, pois reuniões e eventos passaram a ser realizados de forma remota.

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Com a campanha de vacinação, Riva voltou a passar boa parte de seu tempo na estrada. São, em média, dois deslocamentos a Porto Alegre por semana. Mas nada que o incomode, pelo contrário. “Não gosto de ficar sempre no mesmo lugar. Prefiro estar sempre em movimento”, conta. Por outro lado, ciente do que representam as vacinas para o mundo hoje e da enorme expectativa que há na sociedade, ele reconhece o peso da responsabilidade. “Tem gente que nem dorme esperando por essa vacina.”

Após pegar a estrada antes do amanhecer, Riva carrega as primeiras doses da vacina Pfizer que chegaram ao Vale do Rio Pardo

Partida cedo e olhos abertos no retorno
A última terça-feira foi um dia-chave para a campanha de imunização. Pela primeira vez,a região recebeu doses da vacina Pfizer – as poucas que haviam chegado ao Estado até então foram distribuídas apenas para a Capital. Como o imunizante precisa ser armazenado em temperaturas muito baixas (entre -60 e -80 graus), o Vale do Rio Pardo só pôde entrar na rota graças a uma parceria com a Unisc, que colocou à disposição os seus ultrafreezers.

Às 5 horas da manhã, Riva jáestava a caminho de Porto Alegre. Na verdade, costuma sair até mais cedo: morador do Bairro Ana Nery, acorda por volta das 3 horas, toma um café e já vai buscar a S10 LT da Secretaria Estadual da Saúde que fica estacionada na área do Daer para pegar a estrada em torno de uma hora depois. Sair cedo é uma estratégia: as cargas de vacinas são liberadas conforme a ordem de chegada, então o esforço é para ser o primeiro da fila. “Prefiro sair cedo para voltar cedo também. Sei que as pessoas estão esperando”, diz.

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Na madrugada de terça, o termômetro da caminhonete marcava 6 graus. “Pelo menos hoje não tem cerração”, observou Riva. No rádio, o primeiro noticiário do dia destaca o avanço da cepa indiana e alerta sobre os riscos de uma terceira onda de casos. Enquadrado como profissional de saúde, Riva já recebeu as duas doses.

Por volta das 6h50, quando o sol começa a querer dar as caras, já está diante da Central Estadual de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (Cead), na Avenida Ipiranga. Conforme esperava, ninguém havia chegado ainda. “Às vezes, o avião da Brigada Militar leva as doses para as regiões mais distantes. Mas outras vezes, não. Aí os colegas dessas regiões vêm um dia antes e pousam em Porto Alegre. Por isso chego cedo”, reforçou.

Pouco depois das 8 horas, é autorizado a cruzar o portão para carregar o veículo. Embora sejam apenas 3.222 doses, elas ocupam duas caixas, já que precisam ser mergulhadas em gelo reutilizável para que não descongelem. Um termômetro acoplado indica que estão a -28 graus.

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O retorno a Santa Cruz é, para ele, o momento mais desafiador. A carga sob sua responsabilidade custou mais de R$ 174 mil e, diante da oferta limitada no País, cada dose é essencial. Por questão de segurança, opta por não fazer paradas durante o trajeto e segue direto até a Unisc, onde profissionais da coordenadoria e da própria universidade aguardavam para contar e armazenar os frascos. Apenas dois dias depois, repetiria toda a operação para buscar outra remessa, desta vez da AstraZeneca.

Tímido, Riva lembra de quando buscou a primeira leva de doses da CoronaVac, em janeiro. Quando chegou ao Cead, o lugar já estava apinhado de fotógrafos. No retorno, após mais de duas horas de espera, pediram a ele que avisasse quando estivesse próximo, pois autoridades locais e imprensa estariam aguardando. Quando dobrou a esquina e enxergou as pessoas, entendeu que era um momento revestido de muito significado. “Sei que estou transportando a esperança de um povo”, orgulha-se.

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