A inflamação crônica nas pálpebras, chamada de blefarite, aumenta em 67% o risco de desenvolver ansiedade e em 52% de ter depressão. Essa foi a conclusão de um estudo publicado no PLOS ONE. A blefarite é uma queixa oftalmológica de alta prevalência, cujo tratamento é desafiador, já que não tem cura, apenas controle. A relação da doença com a saúde mental é importante, pois os aspectos emocionais podem dificultar o controle das crises.
Segundo a oftalmologista, especialista em doenças das pálpebras, Tatiana Nahas, Chefe do Serviço do Plástica Ocular da Santa Casa, o estresse relacionado à pandemia é um fator de risco para a saúde mental. “Tenho recebido muitos pacientes que entraram em crise nesse período da quarentena. Isso corrobora as descobertas desse estudo, entre a estreita relação da blefarite com a saúde mental”.
Outro ponto salientado pela médica é que o desconforto persistente nos olhos, o impacto na aparência das pálpebras e a sensação de desconforto podem desencadear, em alguns pacientes, o estresse psicológico, com implicações sociais negativas. “Nem todos os pacientes irão apresentar ansiedade ou depressão. Mas, como o estudo mostrou, é possível ocorrer”, comenta Tatiana.
Os principais sintomas da blefarite são externos. E é exatamente isso que pode afetar alguns pacientes. “Formam-se crostas nos cílios, que também apresentam uma espécie de caspa. As pálpebras podem grudar, ficar inchadas e vermelhas. Por fim, pode ainda tornar a visão turva e causar olho seco. Lembrando que se trata de uma condição crônica”, explica a especialista.
Tratamento promissor pode diminuir recorrência das crises
Até 2019 não existiam muitos recursos para o tratamento da blefarite. Mas, no ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou o tratamento com luz pulsada, que mostrou ótimos resultados. “Alguns especialistas notaram que a terapia com a luz pulsada para doenças da pele aliviavam também os sintomas do olho seco de alguns pacientes com outras patologias dérmicas. Foram feitos estudos clínicos voltados para pacientes com blefarite, meibonite e ceroconjuntivite, com o objetivo de comparar os tratamentos tradicionais com a luz pulsada”.
Um desses estudos, publicado em 2019 no Journal of Ophatalmology, apontou uma melhora significativa dos sintomas, em apenas três sessões de luz pulsada. Além disso, não houve efeito adverso e recorrência das crises de blefarite no grupo que recebeu o tratamento. “A energia luminosa da luz pulsada é transformada em energia térmica, que permite a coagulação e ablação de capilares, com redução dos fatores inflamatórios. Também atua na redução de ácaros e bactérias envolvidos na blefarite. Por último, o efeito térmico ajuda a desentupir as glândulas de Meibômio, facilitando a saída da secreção. E isso também ajuda a melhorar o filme lacrimal”, explica.
Vale lembrar ainda que pacientes com terçol e calázio de repetição também podem se beneficiar do tratamento com luz pulsada. Quanto a duração do tratamento, são realizadas de 2 a 3 sessões, a cada 15 dias. “Quando falamos de doenças crônicas, precisamos tratar o paciente de forma integral. Além do tratamento oftalmológico, os pacientes com blefarite precisam buscar ferramentas para gerenciar o estresse, buscando adotar hábitos saudáveis e atividades que contribuam para o bem-estar físico e mental”, encerra a oftalmologista.