O encontro anual de líderes durante o Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça) expôs discussões preocupantes sobre as mudanças climáticas e como isso impacta a economia mundial. Mas não é apenas nessa área que o ambiente interfere: ele ainda pode ser responsável por alterações críticas em nossa saúde e isso estará cada vez mais evidente, afirma o cardiologista, Marcelo Sampaio, da Beneficência Portuguesa de São Paulo. “Temos muitos estudos que comprovam o quanto estas mudanças climáticas são prejudiciais para o nosso organismo”.
As atividades humanas aumentaram a presença de gases de efeito estufa como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera da Terra, resultando em aumento da temperatura média. Cientistas da Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA , na sigla em inglês) confirmaram que a década passada foi a mais quente já registrada e que em 2019 tivemos as mais altas temperaturas globais da superfície da Terra desde que o registro começou, em 1880. E o cardiologista nos lembra que um dos principais órgãos afetados pelas variações extremas de temperatura é o coração. “Vemos aumentar os números de ataques cardíacos, arritmias, alterações de pressão trazidos pelo clima e as altas temperaturas ainda causam problemas respiratórios, reumatismo e até traz consequências psicoemocionais, produzindo altos níveis de estresse e tensão”, exemplifica.
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Já se sabe que o aquecimento global provoca o aquecimento da água, o que facilita a transmissão de patógenos transmitidos nesse meio. Um clima mais quente, explica Sampaio, favorece a sobrevivência e a conclusão do ciclo de vida de vetores de diversas doenças como é o caso dos mosquitos. “As doenças transmitidas por mosquitos incluem algumas das mais comuns no mundo como dengue, a febre chikungunya e febre amarela e as doenças virais”, lembra o médico.
O clima interferirá cada vez mais em nossa saúde em situações de calor ou frio extremos ou de falta ou excesso de chuvas:
Calor – Já se sabe que o aumento da temperatura terrestre também aumenta o registro de pacientes com desidratações, causa arritmias cardíacas, falências renais, acresce os quadros infecciosos e as alterações de pressão, por exemplo, atingindo principalmente pessoas idosas. Há comprovação de que existe aumento da mortalidade durante ondas de calor devido a complicações em pacientes com doenças crônicas.
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Frio – As temperaturas cada vez mais baixas, registradas principalmente na Europa e na América do Norte, aumentam as ocorrências de infartos, trazem problemas para as articulações, angina e aceleram processos reumáticos.
Ar seco – A falta de chuvas ocasionada pelas mudanças climáticas – e a cada ano mais acentuadas – acelera a secura e, consequentemente, a piora da qualidade do ar, trazendo já conhecidos problemas respiratórios e levando muitos pacientes aos prontos-socorros.
Chuva e seca extremas – Já as enchentes, inundações, eventos climáticos como furacões, ciclones e até a seca extrema provocam desde problemas psicoemocionais -o aumento do nível de estresse, tensão e até depressão – até uma série de doenças contagiosas para quem se expõe à água contaminada, com casos de cólera, malária, tifo e outras infecções cada vez mais presentes e atingindo um grande número de pessoas. Após as inundações são relatados muitos casos de leptospirose e infecções por criptosporidiose, que causam dores abdominais, diarreias, vômito e outros problemas sérios.
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Diante das evidências de que o nosso ambiente se transforma, o médico lembra que, além da própria saúde, precisamos cuidar do bem-estar do planeta. “Os efeitos do aumento da temperatura incluem a degradação do solo, trazem prejuízos à biodiversidade, reduzem os recursos hídricos, acidificam os oceanos e promovem o esgotamento do ozônio estratosférico. E tudo isso tem impacto em nossas vidas, pois temos um organismo vulnerável. É evidente que precisamos redobrar os cuidados com a saúde do planeta onde vivemos” conclui o especialista.