Sabe aquela figura do estilista famoso que surge no final do desfile só para triunfar na foto? Pois é. Essa imagem é a antítese de Corre e Costura, programa criado e apresentado por Alexandre Herchcovitch, que estreia dia 28, no canal Fox Life. São oito episódios, cada um com um caso, em que ele se submete ao desafio de criar figurinos, em 48 horas, em qualquer cenário, para pessoas que não conhece e estão em busca de algo específico para determinada ocasião. “Costumo dizer que não é um reality show de moda, é um reality de sonhos”, diz o estilista ao jornal O Estado de S.Paulo, em seu escritório, em São Paulo.
Foi a equipe da Conspiração Filmes, produtora do programa, que selecionou os oito casos que tomarão a atenção de Alexandre nesta primeira temporada – a Fox tem interesse em produzir outras safras, a depender da agenda de Herchcovitch, que também está entusiasmado com a ideia. Dois assistentes o acompanham em toda a série e são figuras essenciais para o êxito da química alcançada em cena: Regina, mãe do estilista e sua parceira em toda a jornada do ofício, e o amigo Rhody, sujeito divertido que sai em busca dos tecidos, nem que seja de ônibus, enquanto Herchcovitch começa a esboçar as criações encomendadas.
“Eles me levam a determinado lugar, me microfonam e falam: ‘bate nessa casa’. Aí, a pessoa abre. Lá dentro, já tem câmera, já tem luz, já tem tudo. Não sei nada do que vou encontrar. Abro a porta e encontro a noiva que quer um vestido, o time de futebol que quer um uniforme, o trio de rap que quer um figurino, etc.”, conta Herchcovitch. “Meu primeiro contato com a pessoa é saber o que ela quer e para qual ocasião. Ela me conta, eu tiro as medidas e a equipe então se separa: minha mãe fica comigo e o Rhody sai para comprar tecidos.” A segunda surpresa é saber onde ele trabalhará. A equipe encontra sempre algum lugar viável para lhe servir de ateliê, próximo ao endereço do personagem de cada episódio. O maior desafio foi criar uma roupa de gala para uma halterofilista, dona de proporções às quais ele não está habituado. Ela queria algo que fosse feminino, mas que valorizasse seus dotes físicos.
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“Até o último instante, a Fox duvidou que eu trabalharia em qualquer canto. Acharam que eu ia querer um ateliê todo estruturado e a produtora esclareceu: ‘ele não quer isso’. Acho que o programa humaniza o estilista e acaba com aquela ideia de que a gente mal trabalha, só aparece no final do desfile”, diz. Herchcovitch sobe em mesa para modelar, cortar e costurar, transpira, sem make up e se põe no chão, se preciso for. Explica que nem todo estilista ultrapassa as tarefas de desenhar, como ele. “O básico, eu aprendi com a minha mãe, que me ensinou a modelar, cortar, costurar. Com o passar dos anos, fui me interessando mais, até que chegou um ponto da minha carreira que parei de costurar e modelar porque virou uma empresa grande e eu não tinha mais tempo. Então, voltei a fazer aquilo que fazia há 20 anos, quando só éramos eu e minha mãe. A minha empresa era eu e minha mãe, no começo dos anos 1990. E cresceu. Contratei modelista, contratei costureira, parei de fazer isso. Agora, voltei a fazer, do mesmo jeito que eu fazia e com a mesma pessoa com quem eu fazia”, celebra.
Dona Regina tem humor, assim como o filho e Rhody, o que a reportagem atestou ao assistiu ao episódio As Trinca, sobre três cantoras de rap em Cidade Tiradentes. A edição conta com a estelar participação de Celso Kamura. E não é que ele vai até a periferia de São Paulo para repaginar as meninas, enquanto Herchcovitch confecciona as roupas? Dona Regina bem que queria dar um pulinho no salão onde o cabeleireiro cuidava das garotas. Quem sabe sobraria um tempinho para dar um jeito no próprio penteado? “Você não vai a lugar algum, vai ficar bem aí”, decreta o estilista à mãe, no ateliê improvisado no centro cultural da comunidade.
Roupas prontas, as meninas do rap têm os olhos vendados – “também quero ser vendado”, implora Rhody, divertindo-se. Só depois de vestidas, elas abrem os olhos diante de um espelho. Sucesso absoluto. A cena final mostra as meninas no palco, em pleno show, com os modelitos criados para a ocasião.
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“Você assistiu a um episódio de final feliz, mas nem todos são assim”, antecipa Zico Góes, diretor de Conteúdo Nacional dos canais Fox. “Algumas pessoas não ficam muito satisfeitas com a obra, acontece”, completa. Para Zico, o programa de Herchcovitch se encaixa perfeitamente no perfil que o canal busca, desde que foi reformado. “Queremos mais um canal de entretenimento do que um canal de life style. O Corre e Costura não é um programa que ensina a desenhar ou costurar, é um programa de entretenimento mesmo, para divertir.”
A equipe também se diverte. Herchcovitch acha essencial poder discordar à vontade da mãe ou cobrar mais pressa dela, o que só poderia acontecer com alguém com quem se tem muita intimidade. E adora quando ela o defende. “A gente sempre chama um conhecido ou amigo da pessoa para ver como a roupa está ficando, e também pra criar uma intrigazinha. Aí chega alguém e diz: ‘Ih, acho que fulano não vai gostar muito disso’. E minha mãe já sai em defesa: ‘Como é que não vai gostar? Foi isso que ela pediu e ele sabe o que está fazendo’. É muito engraçado”, diverte-se Herchcovitch, que tem larga experiência com as câmeras, mas não se vale de encenação durante o programa. “Ninguém diz: ‘fale isso’, ‘vire pra cá ou pra lá’. A gente se movimenta à vontade e fala o que quer, nada é fake”, garante.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo/Agência Estado
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