O tabaco que ainda está nas lavouras gaúchas arde com o calorão e a falta de chuva. As regiões tardias, no Sul do Estado e nos campos de cima da Serra, são as que mais devem sentir as consequências da estiagem, mas o Vale do Rio Pardo também tem plantações penando com o clima. A Afubra estima que, em algumas lavouras da região, onde as folhas ainda estão no pé, a quebra na safra possa chegar a 20%.
“No Vale do Rio Pardo, Taquari e Jacuí, o tabaco já está colhido na sua grande maioria. Então, quem já está com a produção dentro do galpão e não teve prejuízo de granizo vai ter uma safra normal. Mas nas regiões tardias e em parte das lavouras da nossa região, onde ainda há uma ou duas apanhadas na lavoura, os produtores estão sentindo fortemente as consequências”, avalia o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Tabaco, Romeu Schneider.
Segundo ele, a falta de chuva nesta época do ano, que chega a ter 14 horas de sol e calor por dia, faz com que o tabaco esmoreça em quantidade e também em qualidade. “Temos poucas horas sem sol para que a temperatura caia. Então a mínima fica sempre muito alta e esse é o problema maior”, comenta. Conforme Schneider, se a previsão do tempo para esta quarta-feira se confirmar e a chuva chegar às regiões mais necessitadas, as lavouras devem sentir um alívio. “Ajuda mas não resolve, porque o sol quente em cima depois da chuva piora e a planta não tem tempo hábil para se recuperar.”
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Os danos da estiagem, de acordo com o presidente, devem servir de alerta para que os agricultores estudem a implantação de sistemas de irrigação e reservatórios de água. “É um sistema que precisa ser implantado de forma gradual, porque é caro, mas nesses momentos faz diferença total no sucesso do tabaco e outras culturas. Falamos muito disso quando a situação grave está aí, mas depois volta a chover e isso cai no esquecimento. Mas os produtores precisam se programar para investir nessa salvaguarda.”
Dos cereais, milho é o mais prejudicado
Em fase de formação e aumento dos grãos, o milho também sente os impactos da seca no Vale do Rio Pardo. Conforme o técnico agrícola Paulo Zampieri, da Emater/Ascar, o cereal é o mais prejudicado pelo calor e a estiagem, principalmente nas lavouras onde as sementes foram plantadas entre setembro e outubro. Já no caso da soja, Zampieri afirma que muitos produtores ainda estão com as sementes e os insumos guardados nos galpões, mas aqueles que plantaram não estão vendo um desenvolvimento adequado das mudas.
“O produtor de arroz também vai encontrar dificuldade por conta dos níveis dos arroios e rios, que está muito abaixo do normal para a época. E a produção de leite também vai ser impactada, porque os produtores não estão conseguindo usar as pastagens de verão e precisam recorrer à silagem”, avalia Zampieri. Em relação aos hortifrutigranjeiros, ele lembra que muitos feirantes já contam com sistema de irrigação. “Mas o nível dos açudes está baixando dia a dia, dificultando novas semeaduras e transplantes e ocasionando o não desenvolvimento”, comenta. Mesmo com as irrigações, conforme Zampieri, o calor acaba queimando as plantas e os produtores devem recorrer a outros recursos, como o sombrite, que pode ser utilizado no caso das folhosas.
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“Todos os cereais que predominam na região, e a própria fruticultura, estão na lavouras. Agora vem o desenvolvimento da fruta e a seca vai refletir na colheita, principalmente da laranja e da bergamota, tanto no tamanho quando na qualidade”, observa o técnico da Emater.
Feirantes plantam menos e já calculam perdas
Mesmo contando com sistema de irrigação, os hortigranjeiros de Santa Cruz já calculam as perdas trazidas pela estiagem. O feirante Sílvio Heck conta que tem plantado menos folhosas, como couves e alfaces, porque outras culturas, que antes não precisavam de irrigação, agora já necessitam. “O calor está demais. O rabanete e a beterraba, antes a gente não precisava irrigar, mas com essa seca estão precisando e sobra menos para os verdes.” O produtor estima uma quebra de 25%.
Já o feirante Fábio Schuck, que também planta em Linha João Alves, diz que ainda não é possível mensurar as perdas, mas acredita que deve ficar sem as folhosas na feira se as chuvas não chegarem. “Em uma ou duas semanas, se não chover, já não vamos mais ter alface e outros verdes. Sempre se perde alguma coisa nesse clima”, lamentou.
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