Provavelmente todas as pessoas que leem esta coluna já tiveram oportunidade de viver alguma aventura do zero oitocentos. Com raras exceções, é um exercício monumental para testar a saúde dos nervos, o limite da paciência, o alcance da tolerância possível. Só quem possui muita resistência ou inadiável necessidade consegue, depois de vários “se o seu problema for tal, digite dois…”, falar com um ser humano. Aí, só para complicar, este vai pedir uma senha ou um código, depois solicita um relato para, finalmente, dizer que esse problema não é com ele.
Tenho saudade dos balcões da CEEE, da Corsan, da CRT, só para citar alguns. Sabíamos o nome das pessoas que nos atendiam, elas sabiam o nosso, eram gentis na recepção, escutavam, resolviam. Hoje, nossa demanda pode cair em Recife ou em Manaus e um robô vai nos conduzir, ou provocar, até muitas vezes desistirmos da nossa necessidade. O zero oitocentos em geral só atende bem e com muita agilidade quando queremos comprar algum produto da empresa. Se desejar alterar um plano de uma assinatura para mais, é rapidíssimo. Se é para discutir valores cobrados em excesso, aí nem Jó sobreviveria.
Sei que isso faz parte do progresso, mas nada como ser atendido por pessoas, ser mais do que um número ou um código, poder falar, explicar, expor, trocar ideias, receber orientações claras, precisas. As pessoas querem ser ouvidas. É certo que as cidades cresceram, em consequência também as demandas. Mas também as receitas se robusteceram. Penso que seria de grande interesse e utilidade haver locais de atendimento nos bairros, onde os problemas pudessem ser recebidos e as soluções encaminhadas com a devida rapidez.
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Pior ainda quando não sabemos a quem recorrer. Há mais de um mês, uma empresa (terceirizada, acredito) trocou alguns postes na quadra onde moramos, elevando os fios que a toda hora eram rompidos por caminhões. Entre dois postes ficou dependurado um cabo (o mais grosso entre tantos que ali se encontram) a poucos metros do chão. Quem resolve isso? Se ligar para um, este diz que o problema é do outro, alega que alugou o espaço para passar sua fiação. Agora, quem é esse outro dos tantos que alugam esses espaços nos postes? Qual é seu contato? Sem contar as lâmpadas que ficam acesas semanas a fio (só perto da nossa casa são quatro). Quem paga isso mesmo?
Ao reduzirmos ou perdermos essas relações humanas, parece-me que nos tornamos mais empobrecidos, mais distantes, mais frios. Esses robôs nos conduzem a isso. Fico pensando na aflição das pessoas (e não são poucas) que lidam com dificuldades com as tecnologias modernas e não encontram outra forma de encaminhar seus problemas. Eu mesmo confesso que se, diante de tantos desconfortos que a toda hora se apresentam, não tivesse a assessoria de meus filhos, acho que há muito tempo já não teria luz, internet, televisão, celular, ou seja lá o que for.
Sei que os balcões não voltarão; fiquem sabendo, no entanto, que ainda lhes somos gratos porque nos acolhiam com simplicidade, respeito e alegria.
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