Em A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura, livro de 2013 do escritor peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura, que acabo de ler, ele fala da banalização das artes e da literatura, fenômeno que observa já há um tempo considerável a partir de meados do século passado. Nele, a sociedade tem uma predileção pela distração em si, pelo sensacionalismo e pela espetacularização dos fatos, evitando o que exija maior atenção, reflexão e consciência da realidade, enfim, uma visão mais cultural.
Seria possível dizer que este seria um mau espetáculo propiciado por todos nós na atualidade. Já o bom estaria no cultivo das boas ações intelectuais, na apreciação atenciosa de tudo e na reação correspondente. Sob esse ponto de vista, o que nos foi dado assistir nos últimos dias, em verdadeiros espetáculos realizados em nosso meio, só pode motivar as mais efusivas palmas e rasgados elogios. Como já pude exaltar em outras ocasiões, nossa gente possui imensos bens culturais, em boa parte herdados de nossos imigrantes alemães e mesclados com outras etnias, que foram retratados novamente com maestria.
Menciono logo dois eventos que presenciei, relacionados justamente à celebração dos 170 anos de imigração alemã em Santa Cruz do Sul, em programação bem organizada por Paulo Trinks e sua equipe: o encontro de corais em Linha Santa Cruz, dia 22 de novembro, e a apresentação da Orquestra de Câmara e Coral da nossa universidade (Unisc), no dia 27. Os grupos da própria Linha Santa Cruz, de Boa Vista (Cruzeiro do Sul), AABB, Afubra e Centro Cultural 25 de Julho trouxeram ao palco da Matriz local cânticos diversos, todos na língua alemã, que fizeram os assistentes vivenciar e reverenciar um múltiplo espectro de emoções.
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No espetáculo que ocorreu no lotado Anfiteatro da Unisc, vozes e sons da música instrumental completaram-se em conjugação perfeita que eleva a alma aos mais reconfortantes sentimentos e espaços. O concerto, todo ele com peças de consagrados autores alemães, e arranjos locais, como lembraram bem a professora e tradutora Lissi Bender e o maestro Leandro Schaefer, procurou trazer ao público um pouco da rica cultura germânica nessas artes, com muitos elementos ligados à natureza e à religiosidade, que se busca preservar e que mais uma vez emocionou a todos.
O mesmo aconteceu em novas tocatas da nossa Banda do Exército, um patrimônio cultural santa-cruzense, que pude assistir há poucos dias junto com a comunidade, em magistrais exibições no Teatro do Mauá e na bela Esquina da Cultura, com nova praça e novo local para a Biblioteca Pública Municipal. Fomos brindados com repertório variado e bem executado, muitas atrações e até momentos especiais, em que viúva de fundador da banda (Arno Lüttjohann), aos 92 anos, subiu ao palco para evidenciar tudo que a banda representa para nossa terra e nossa gente. E fiquem atentos: vêm mais e bons espetáculos por aí, nesta época sempre mágica do Natal.
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