A propósito da coluna inicial, sobre viagens por sons e emoções, e da paixão da região por bandas de música, vale discorrer um pouco mais sobre o assunto, fazendo referência aos primeiros grupos musicais que atuaram por essas “bandas”. Sobre isso recolhi interessantes informações em pesquisa sobre meu patrono na Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, o padre jesuíta santa-cruzense, escritor e tradutor Arthur Rabuske, que traduziu e publicou na Gazeta do Sul, em 1976, nos meus primeiros tempos do jornal, artigos de autor anônimo (identificado apenas por “H”) que haviam saído no “Deutsche Volksblatt” de Porto Alegre em 1896, contando a vida de músicos na região nos anos 1870.
Duas “bandinhas”, formadas por famílias de pomeranos imigrados (Lau, na Picada Rio Pardinho, e Boesel, de Dona Josefa, na então Colônia de Santa Cruz), atuavam na vasta área de colônias teutas junto à Serra Geral, desde Estrela até a Colônia de Santo Ângelo (hoje Agudo). A série de artigos traz as peripécias vividas pelos músicos para chegar aos três salões de baile então existentes no interior de Santa Cruz (Picada Velha, Picada Nova e Vila Teresa), por estradas ruins e sem pontes, e as giras mais adentro, “por veredas pouco trilhadas, varando espessa mata virgem, em longas voltas, por terreno montanhoso, para ao final terminar em distinta e elegante casa do clube na cidade”.
Receberam enfoque especial os “casórios de pomeranos”, que em geral aconteciam de manhã. Mas no dia anterior a música já se dirigia ao local, para recepcionar os convidados. Na cerimônia, tocava hinos adequados à ocasião e, após o banquete, passava a animar as danças, com a exigência de incluir peças das regiões germânicas de origem, e em jornada que se estendia até a noite, sem parar, com “breves cochilos durante a própria execução das músicas, já tocadas de olhos fechados”, segundo os registros.
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Entre outros relatos, chama atenção viagem que durou quatro dias à colônia da atual região de Agudo, de carroça, com pouso em mato, tombos do veículo, fuga dos cavalos de tração e baile improvisado no interior de Cachoeira do Sul. Teve destaque ainda a participação dos músicos na procissão local de Corpus Christi e no desfile da grande festa da paz em 1871, organizada na cidade para celebrar vitórias alemãs sobre os franceses. Na festa, tocavam e o povo cantava canções como: “Was ist das deutsche Vaterland – O que vem a ser a pátria alemã”, e “Wacht am Rhein – Guarda junto ao Reno”.
A relação dos imigrantes com a música de banda está, pois, presente desde logo em nossa terra e explica a forte ligação mantida pelos descendentes. Assim e por entender que falar das nossas raízes é essencial, volto a destacar tradições da nossa cultura, o que pretendo fazer sempre que possível.
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