Inicio dizendo que, a meu sentir, tu tens que ser legal para as pessoas de quem gostas e que te querem bem. Isso enquanto vivas. Depois de mortas pouco sentido faz o arrependimento com lágrimas de crocodilo. Como bem disse Nelson Cavaquinho “Se alguém quiser fazer por mim/que faça agora/Me dê as flores em vida/O carinho, a mão amiga/Para aliviar meus ais/Depois que eu me chamar saudade/Não preciso de vaidade/Quero preces e nada mais.”
Sou partidário do antigo axioma “de mortuis nil nisi bonum”, em tradução livre, “dos mortos só se fala o bem”.
No dia de Finados me recordo com mais profundidade das pessoas queridas. Dos meus pais e avós já falei aqui nesta coluna e em outras publicações. Hoje quero falar de algumas tias maravilhosas que tive. O pai da minha mãe era viúvo e se casou com uma viúva, já viu que família grande que deu essa junção, cada consorte trazendo seus filhos para o novo lar. Assim, minha mãe tinha “meios-irmãos e irmãs”. Uma delas era a tia Olga, casada com José Beck, nossa vizinha em Santa Cruz. Tia Olga era madrinha de minha irmã Lia. Quando Lia estava de aniversário, a tia dava um presente para ela, também para minha outra irmã e para mim. Assim era na Páscoa e outras datas. Tia Olga nos advertia severamente a não chegarmos perto do seu poço, pois lá morava um monstro chamado “Brunnenmann”, que gostava de matar crianças. Incríveis essas lendas envolvendo água (sereias, rusalkas, etc) que a alemoada trouxe nos baús, sendo as rusalkas uma lenda eslava, mas que se espalhou.
A outra meia-irmã da mãe era a tia Elza Lawisch. Ela e tio Robert tinham vários filhos e filhas, notáveis por seus traços lindos e sua afabilidade. A casa da tia era acolhedora, ela fazia um pão de cujo perfume nunca me esqueci. Fui sempre amicíssimo de todos os meus primos Lawisch. Impressionante que as primas tinham e têm uma tez bronzeada congênita e belíssima. Naquela casa observei o valor da união e do amor entre membros de uma família. Como era pura a amizade e a fidelidade entre essas tias e minha mãe. Como eram solidárias. Todas já passaram para outra dimensão, mas jamais morrerão nas minhas lembranças.
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Last but not least, vem minha tia Brunhilde, filha do meu avô Rudolf Gessinger. Sério mesmo, ao me lembrar dela, me vem à memória a grande Clara Schumann, compositora alemã, esposa de Robert Schumann. A tia me iniciou na música de qualidade. Ensinou-me a disciplina musical. Não transigia. Que Santa Cecília a tenha de parceira, tocando a Patética de Beethoven. Mas pode também ser o tango “re fa si”.