Começo com a Lya Luft, “née” Fett. Com efeito, ao que me consta, a santa-cruzense chamava-se Lya Fett, filha do dr. Arthur Germano Fett, insigne juiz de Direito e, depois, advogado. Lya, nascida em 1938, portanto sete anos mais antiga do que eu, arrasava corações, desfilando nos “footings”, aos domingos, na rua principal de Santa Cruz, com seu tomara que caia. Era uma pioneira, assim como foi e é a Maria Berenice Dias, que nasceu em Santiago.
Lya se encantou com seu professor, o irmão marista Celso Pedro Luft. Casaram-se e ela, até hoje, depois de outro relacionamento, mantém o nome Luft. É uma maravilhosa pessoa, deveria ter um lugar de honra na Academia de Letras recém criada em Santa Cruz. Lya é conhecida nacional e internacionalmente, o que deve ser motivo de orgulho de todos nós.
Nasci na Linha Araçá, mas meus pais se mudaram para a cidade quando minha irmã e eu éramos crianças. Cresci, portanto, numa cidade que, sem embargo da erudição alemã, pouco repercutia as raízes folclóricas dos imigrantes. Fluía entre muitos da minha geração uma certa relutância em falar o alemão. As razões todos conhecem.
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Santa Cruz se tornou uma cidade cosmopolita por força das empresas estrangeiras que nela se estabeleceram. Daí que nos bailes da cidade predominava a música norte-americana. As canções germânicas ficaram escondidas nos recônditos das casas. Claro que mais tarde renasceram, tímidas. Bem ou mal, nunca é tarde demais.
Nas vitrines me lembro que havia pequenos cartazes dizendo que se precisavam de balconistas, mas que soubessem falar alemão. Minha falecida mãe, por exemplo, preferia falar alemão e repreendia quem, conquanto falasse o idioma, lhe respondesse em português. São fatos históricos e não há necessidade de aqui revolver perseguições havidas na época de Getúlio ou setores torcendo pelo Eixo. A História chora quando morre um idioma numa região.
Para finalizar estas “mal traçadas”: um dia fui acessar a cidade lá pelos lados da Linha João Alves. Pude vislumbrar um campo de golfe de dar inveja nos Estados Unidos. Golfe em Santa Cruz? Ali onde meus amigos e eu íamos “roubar” bergamotas! Ali mesmo, sim, que horror, onde caçávamos passarinhos. E os comíamos fritos. Essa circunstância alegarei como atenuante no dia do Juízo Final. Mas pedirei que minha mãe seja absolvida, pois ela fritava as rolinhas sob coação maternal irresistível…
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