Eis que, em meio à propagação do coronavírus, à preocupação com a nuvem de gafanhotos e ao ciclone-bomba, surgiram também relatos sobre o aparecimento de Ovnis no Rio Grande do Sul. Segundo narrativas que ganharam corpo nas redes sociais no início da semana, estranhas luzes multicoloridas estariam sendo avistadas no eixo entre o Litoral Norte Gaúcho e o Catarinense. Trata-se justamente, segundo os ufólogos, de uma região bastante frequentada por seres de outros planetas. Os ETs, ao que parece, de bobos não têm nada: gostam de curtir uma praia. Mas agora erraram na data – pegaram frio, chuva, temporal e uma pandemia.
Outro lugar muito frequentado por alienígenas é Rio Pardinho, segundo contam. De tempos em tempos surgem relatos de gente que avistou objetos não identificados nos céus do distrito. Gente séria, que eu conheço, jura que viu luzes estranhas por lá, o que me faz divagar… estariam os ETs em busca da fórmula da cuca perfeita?
Se não acredito em alienígenas? Não é bem isso. Não duvido que existam, com base em um argumento tão simplório quanto difícil de derrubar: o Universo é grande demais para abrigar um único planeta com vida. Os cientistas ainda não sabem onde ficam as fronteiras do Universo e, para complicar, ele não para quieto e nem faz dieta, segue em expansão. Acredita-se que tenha 100 bilhões de galáxias, sendo que só a nossa, a Via Láctea, tem 100 bilhões de estrelas, de acordo com as estimativas mais modestas – as mais pretensiosas falam em até 400 bilhões.
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Não é tudo. Pesquisadores sugerem que para cada estrela da Via Láctea haveria 1,6 planeta, ou seja, seriam, no mínimo dos mínimos, 160 bilhões de planetas para além do nosso sistema solar, só na nossa galáxia. É espaço demais só para a gente.
Contudo, sou meio cético em acreditar que alienígenas nos visitem com tamanha frequência, justamente devido às distâncias a serem vencidas. No Universo as distâncias são medidas em anos-luz, ou seja, a partir do tempo (em anos, muitos anos) que a luz demora para seguir de um ponto a outro – e basta ligar o interruptor para perceber que a luz é bem rápida. A Via Láctea, por exemplo, tem 100 mil anos-luz só de diâmetro. Ainda que os alienígenas tivessem espaçonaves capazes de viajar na velocidade da luz, seus passeios demorariam um tempão. Eles teriam que ter muita paciência, e muita vontade de curtir nosso litoral ou um bom prato de cuca com linguiça.
Ainda assim, fiquei intrigado ante os últimos relatos e decidi trocar uma ideia sobre o tema com quem costuma ter opiniões bem definidas sobre os mais diversos assuntos: nossa caçula, Ágatha. E ela foi enfática:
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– ETs não existem.
– Por que não?
– Porque não.
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E deu o assunto por encerrado. Mas eu não. Então, voltei à carga:
– Tu sabes que “porque não” não serve como resposta…
A traquinas então franziu o cenho e deu um longo e impaciente suspiro.
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– Pai… já viu algum ET?
– Não…
– Algum disco voador?
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– Também não…
– Nem eu. E tem coisas que só acredito vendo.
Contudo, Yasmin, a irmã um ano mais velha que a Ágatha, ouviu nosso debate e decidiu oferecer o contraditório:
– Alienígenas existem sim. Basta pesquisar na internet para encontrar um monte de relatos de pessoas que os viram.
Deu início então a entusiasmada palestra, na qual abordou supostos contatos de primeiro grau, sinais deixados em plantações, vacas abduzidas e a famigerada Área 51.
Ágatha, contudo, não deu-se por vencida mesmo diante do embasamento dos argumentos da irmã e a defesa de seu ponto de vista virou uma questão de honra. Até que, irritada, perdeu as estribeiras:
– Se ETs existem, tu certamente é um deles!
Foi aí que decidi encerrar a conversa. O debate mostrou-se inconclusivo, mas serviu para mostrar que polemizar sobre a existência de alienígenas é como discutir política: envolve convicções e paixões, e pode não acabar bem.