Proponho para hoje uma reflexão sobre um tema tão enigmático quanto a eleição de Trump. Tenho me perguntado se haveria mesmo relação entre o professor Walter White e o apocalipse zumbi de The Walking Dead. Para quem não sabe, trata-se de uma questão amplamente discutida, nos últimos dias, no universo pop/nerd/geek. Se tal hipótese estiver certa, nos coloca diante de uma metáfora perfeita – e aqui falo sério, sem ironias –para ilustrar um preocupante fenômeno dos dias de hoje.
Explico. Walter White é o protagonista da premiadíssima série de televisão americana Breaking Bad, que fez muito sucesso a partir de 2008. White é um químico brilhante, mas frustrado com a vida de professor de ensino médio afundado em dívidas. Quando descobre estar com câncer de pulmão, decide aplicar seu conhecimento na fabricação de metanfetamina, na esperança de deixar um pé-de-meia para a esposa grávida e o filho com paralisia cerebral. Tal opção o leva a desventuras totalmente estranhas a um pacato docente.
Pois bem. Segundo a teoria corrente, a droga produzida por White teria sido a causadora da epidemia que, na outra série, The Walking Dead, transformou quase toda a humanidade em zumbis. Embora explorando um tema para lá de batido no cinema, Walking Dead faz um sucesso tremendo ao expor o lado cruel dos ainda humanos, em sua luta desesperada pela sobrevivência no mundo pós-apocalíptico. Os entusiastas da teoria apresentam diversas coincidências entre as duas séries, que corroborariam a hipótese. Não vou me atrever a elencá-las, o que seria tão complexo quanto tentar explicar a eleição do Trump.
Nos dez anos em que fui repórter de Polícia, conheci vários zumbis – aqui, no sentido metafórico da palavra. Vi muitos deles algemados em viaturas ou no xadrez da delegacia. Outros, pude conhecer por conta do desespero de seus pais, que vinham buscar via imprensa alguma atenção para a mazela dos filhos. Muitos eram garotos que, no auge da dependência em narcóticos, já não tinham a mínima capacidade de reflexão, discernimento, consciência, amor, perspectiva de futuro. Tais como zumbis, vagavam pela cidade quase que por instinto, em busca de trocados para conseguir mais droga. Alguns roubavam ou até matavam para atender a essa necessidade única.
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Sob essa perspectiva, o apocalipse zumbi já começou faz tempo. E as pobres vítimas desta epidemia causada pelas drogas nos espreitam das calçadas – quem sabe, pedindo ajuda –, enquanto desfrutamos do ar-condicionado do carro, fazendo de conta que essa triste realidade não nos diz respeito. Exagero? Tomara. Mas é a sensação que tenho toda vez que me aproximo do entroncamento da Bartholomay com a 471.