A 23 dias do fim do ano, o cansaço é notável no semblante de quase todos por quem passo. E não é por menos: que ano este 2018! Líderes levados à cadeia em um país conflagrado por um sistema político apodrecido, a economia claudicante abalada por uma paralisação histórica nas rodovias, a violência produzindo tragédias como a de Francine e o menino Enzo, uma eleição que rachou famílias e sepultou amizades, e o retorno de fantasmas que achávamos que tinham ficado no passado, como o da ruptura democrática. Já que nem todos temos a sorte dos ministros do STF, presenteados com um polpudo aumento salarial pelos papais noéis do Congresso, é mais do que compreensível esse sentimento que parece generalizado – o de “acaba logo, 2018”.
Trata-se de uma ilusão, claro. Afinal, nada muda em si após uma virada de ano. Mas a forma como marcamos o tempo nos permite esses espaços de esperança, reorganização e recomeço e, com isso, é saudável que tenhamos expectativas de dias melhores – mesmo que os sinais sejam incertos.
Resta-nos dedicar essas semanas que nos separam de 2019 a pensar em como podemos individualmente contribuir para que os tempos vindouros sejam, de fato, melhores. Eu já defini a minha meta, que vou acrescentar à lista de resoluções ao lado de “fazer mais exercícios físicos” e “beber menos refrigerante”: lutar contra a desinformação.
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Nada marcou mais este ano – em nível global, inclusive – do que o surto de “pós-verdades”. Creio que a maioria das pessoas ainda precisa ser convencida de que há um abismo entre o que é fato e o que pode ser fato e o que desconfiamos ou gostaríamos que fosse. Sobretudo, de que o problema fragiliza as instituições, influencia os rumos da nossa História e, sim, destrói reputações e vidas, sem exageros. E a despeito da necessidade de leis mais rígidas e fiscalização mais efetiva, só atitudes pessoais de responsabilidade são capazes de conter essa epidemia.
Mas o fenômeno também redimensiona, penso eu, o papel do jornalismo, que tem por missão natural oferecer o relato mais próximo possível da realidade e nesses tempos esquisitos, disputa atenção com toda sorte de informação de baixa qualidade. Mais do que informar, precisamos combater o “mal-informado”, separar o que é fato e o que não é, apontar a má-fé por trás das ditas fake news e tudo isso de forma responsável e efetiva o suficiente para sermos convincentes. Essa é a minha meta.
Também deixo uma sugestão: ser mais gentil – no elevador, na fila do banco, no almoço de domingo, no grupo de WhatsApp. Não há como esperar algum avanço enquanto não recuperarmos a nossa capacidade de conviver com quem pensa diferente e de dialogar não por meio do grito mas pelo argumento respeitoso. Feliz Natal e até dias melhores!
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