Até onde consigo lembrar, nunca falhei uma Oktoberfest. Em alguns anos estive mais vezes, em outros menos, mas jamais deixei de ir.
É claro que, ao longo desse tempo, a minha relação com a Festa foi mudando. Nas memórias mais remotas, estão as tardes que passava pulando de um brinquedo para outro com amigos – não raro com os pés atolados em uma poça de barro, porque, para variar, havia chovido. Depois, na adolescência, esperávamos ansiosos pelo anúncio dos shows, que à época eram no Ginásio Poliesportivo – o do Nenhum de Nós, em 2003, é um dos que tenho mais presentes. Já no primeiro ano da faculdade de Jornalismo, participei como estagiário de uma cobertura da Oktober, e praticamente me mudei para o parque durante toda a programação. Em busca de temas para reportagens, explorei cada atração.
Curiosamente, também passei por um período em que, tomado pela soberba e ímpeto de contestação que são típicos de certa fase da juventude, me voltei contra a Festa. Passei a vê-la como algo paroquiano e que reduzia Santa Cruz a um estigma do qual, por não possuir ascendentes alemães (embora tenha nascido e vivido aqui toda a minha vida), não me sentia parte.
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O tempo, talvez a maturidade e sobretudo a experiência de observar a Oktober com olhar jornalístico nos últimos anos me fizeram repensar tudo isso e hoje guardo pela Festa, mais do que um carinho, um respeito muito grande. Nunca havia percebido, por exemplo, o exército de pessoas que trabalha – em boa parte de forma voluntária – para fazer a Festa acontecer. Pessoas que abrem mão de seu tempo durante quase todo o ano por puro espírito comunitário. E imaginem só a dor de cabeça que organizar uma festa desse porte deve dar!
Mesmo quem eventualmente não gosta ou frequenta a Oktober acaba se beneficiando por tabela disso. Às vezes torcemos o nariz porque precisamos dar uma volta a mais para ir de casa ao trabalho em função das ruas bloqueadas, ou pelo barulho de madrugada (são só 10 dias, gente!) ou então por uns copinhos de plástico que amanhecem espalhados pela calçada. Mas esquecemos do retorno que a Festa dá ao Município. Basta ver os carros de táxi se misturando aos ônibus de excursão pelas ruas e os hotéis e restaurantes lotados. Não reconhecer isso, considerando o empenho de toda essa gente, é no mínimo uma injustiça.
Ademais, há um valor simbólico, e nem estou me referindo à preservação de nossa herança colonial, mas à manutenção de algo que é nosso, que é um patrimônio e uma História, que nos identifica e une. É bonito andar pelo parque e notar no rosto das pessoas o quanto gostam de estar lá.
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Para mim, a Oktober também sempre foi um sinal de que o fim do ano está próximo. No fundo, é mesmo isso: um ponto seguro de referência. E que venha a próxima!