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Direto da redação

Conformismo à brasileira

Se tem uma coisa que não falta a nós, brasileiros, é capacidade de se conformar. De aceitar duras realidades e tocar em frente, do jeito que for possível.

Engana-se quem nos acusa de não saber discernir entre certo e errado. Sabemos, sim. Ocorre que, quando identificamos algo errado, não desperdiçamos energia tentando mudar o imudável. Respiramos fundo, improvisamos e seguimos, afinal a vida continua. Com o tempo, nos acostumamos com o improviso e o errado nem parece mais tão errado assim.

Quem não lembra da declaração de Marta Suplicy, quando ministra do Turismo, em meio à crise aérea de 2007? Questionada sobre o que diria aos turistas que sofriam com os longos atrasos em aeroportos, disparou: “Relaxa e goza que depois você esquece todos os transtornos”. Está aí a nossa filosofia: não há nada que um pouco de paciência e samba no pé não cure.

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Somos imbatíveis nessa matéria. E o exemplo mais latente disso é a violência urbana. Driblar a falta de segurança é algo que já incorporamos à nossa rotina e, de tão habituados, não percebemos o quanto isso compromete a nossa qualidade de vida e nos submete a situações absurdas – isso que Santa Cruz ainda é uma ilha de relativa tranquilidade, ao menos comparada com a realidade das regiões metropolitanas.

Outro dia, porém, ouvi alguém dizer que não tem mais coragem de tirar o celular do bolso no Centro, mesmo durante o dia. As fachadas das casas cada vez mais lembram campos de concentração: portões altos, cercas de arame farpado, placas indicando sistemas de vigilância. Nos bairros, multiplicam-se os mercadinhos com portas giratórias. Ouço frequentemente taxistas relatarem que, a partir de um certo horário, recusam corridas para certas regiões. Conheço mulheres que andam com spray de pimenta na bolsa. E é notável que as ruas à noite estão cada vez mais desertas.

Viver com medo já é natural para nós. A nossa resposta à insegurança crônica é o encolhimento e a resignação, a ponto de, não raro, responsabilizarmos uma vítima de assalto ou assassinato porque “se expôs” ou “se arriscou demais”. Tanto que, apesar de estarmos entre os países com as maiores taxas de homicídio do mundo, dificilmente a violência é pauta de movimentos organizados. A não ser em casos muito particulares, como os latrocínios que ocorreram este ano por aqui. Mas ao invés de protestar por vidas perdidas, não seria mais inteligente protestar para que outras não se percam?

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O que me preocupa nessa postura passiva é o limite. Já é meio consenso que sair à rua à noite é algo a se evitar. Há alguns dias, no entanto, uma moça foi assaltada por um motoqueiro com uma faca às duas da tarde de um sábado, perto de onde moro, na Verena – por sinal, uma região tranquila. Qual o próximo passo, então? Deixarmos de sair nas tardes de sábado?

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