Eis que chegamos a mais uma Páscoa e, para nosso estupor, ainda às voltas com a Covid-19. E talvez em um grau de ameaça mais forte do que nunca, ao longo desse período de mais de um ano em que já afeta nossas vidas. E, quando se diz nossas vidas, de certo modo o termo abarca, sem exagero, toda a humanidade. Entre as primeiras manifestações do novo coronavírus, ainda ao final de 2019, e as novas cepas, ou novas variantes, que surgem e ressurgem quase em tempo real e em simultâneo em diferentes partes do globo, por ora não podemos ter nenhuma certeza, nenhuma segurança, quanto a um controle efetivo, e sequer se as próprias vacinas de fato nos imunizarão com plena eficiência.
Na Páscoa de 2020, em realidade de Brasil, o quadro era de muita ansiedade. Mas se vivia, como uma consulta a edições de jornais da época permite verificar, a expectativa de que tudo viesse a ser, ou pudesse ser, contornado em questão de semanas, e estivesse superado até a primavera. Para frustrar esperanças, ou mesmo levar a desdizer tudo o que estava sendo dito, os meses foram se passando e não só o coronavírus não saía de cena como se espalhava mais e mais. Assim atravessamos todo o ano, entre debates, discussões e quedas de braço nas quais os mais convictos ou confiantes foram os primeiros a ter o tapete das certezas puxado de sob os pés, e chegamos ao Natal.
E ali talvez tenha começado o drama maior. Porque não só não havíamos feito o que era necessário ao longo do ano, nos unirmos efetivamente para evitar a tranquila circulação do vírus Brasil afora, como entendemos que bastaria trocar de calendário, colocando o de 2021 na mesa em lugar do de 2020, e tudo sumiria, como passe de mágica. Vieram as festas natalinas e de virada de ano, vieram as viagens e as férias. Passearam e se divertiram as pessoas, mas também passeou e se divertiu o coronavírus, que, pelo visto, está e estará em todo lugar onde mais pessoas decidirem estar juntas e ignorar as regras de prevenção.
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Em mais uma Páscoa, talvez cumpra lembrar da frase que Jesus teria pronunciado quando já estava pregado na cruz e via o povo de Jerusalém assistindo à sua crucificação, sem esboçar qualquer reação ou gesto, apenas testemunhando aquele espetáculo: “Pai, perdoa-os, porque eles não sabem o que fazem”. Os que se aferram a ser negacionistas e inconsequentes, que se esquivam de obedecer às regras dos organismos da saúde, e que assistem há um ano a sociedade se mobilizar e se engajar em nome da coletividade, e no entanto criticam todas as ações e orientações, deles ainda se pode dizer que nada sabem?
Se sabiam, e sabem, porque as orientações da Saúde têm sido divulgadas abertamente, e ainda assim persistem em ser do contra, como será que a sociedade deve, ou deveria, lidar com eles? Se não houver mudança de postura, de atitude, e cobranças a quem não é colaborativo, tendemos a chegar à Páscoa de 2022 nas mesmas condições de agora. E isso, claro, ninguém aguentaria.
Um bom final de semana. E uma Feliz Páscoa!
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