Entre os papéis essenciais do jornalismo estão lembrar, fazer lembrar, exercitar a memória, estimular as lembranças. Jornalistas e veículos de comunicação são depositários da memória coletiva. Quando uns esquecem, estes lembram, e os que lembram informam, e desta maneira constrói-se o conhecimento. Quando uma geração tende a esquecer ou a não lembrar, a memória representada pelos veículos de comunicação entra em ação: lembra das coisas (as boas, e por vezes as nem tão boas assim).
Por conta dessa característica do jornalismo de lembrar e compartilhar lembranças é que esta edição da Gazeta do Sul traz reportagem sobre os 10 anos desde a queda da ponte sobre o Rio Jacuí, em Agudo. Sim, neste domingo completa-se exatamente uma década desde aquele acontecimento: a estrutura ruiu sob a pressão da água de uma das enchentes mais terríveis já verificadas na região central do Estado. O jornalista João Cléber Caramez e o fotógrafo Lula Helfer foram a Agudo e conversaram com o repórter Márcio Nunes, da Rádio Agudo, que narrou a queda da ponte em tempo real, como testemunha ocular. Entrevistaram ainda um sobrevivente, a viúva de uma das vítimas e pessoas que estavam no local na fatídica hora.
Outra reportagem especial desta edição aborda a polêmica em torno dos cortes de árvores que a empresa RGE realizou nas últimas semanas no ambiente central de Santa Cruz do Sul. A justificativa seria a de evitar danos à rede elétrica, mas a comunidade questionou se haveria mesmo ameaça tão pontual para suprimir da paisagem várias árvores adultas, de grande porte, em vias cuja arborização era compreendida por todos como patrimônio coletivo, e como tal deve ser mensurada. Reportagem do jornalista Rodrigo Nascimento, com fotos de Alencar da Rosa, contextualiza o cenário em que as intervenções da RGE ocorreram, e que acabaram motivando o poder público a retirar a licença que autorizava tais cortes.
Novamente, impõe-se uma lembrança: a RGE argumenta que a vegetação coloca em risco a rede elétrica, e por isso precisa ser podada ou suprimida. Mas muitas árvores já estavam lá, no espaço público, quando a rede foi implantada. Não seria mais coerente, neste e em casos similares, um melhor planejamento, e que as mudanças fossem feitas na própria rede? Cortar as árvores que já estavam na via não soa a lei do menor esforço? No túnel verde da rua central, por exemplo, as tipuanas encontravam-se ali muito antes da rede elétrica. Não foram as tipuanas que cresceram por entre a rede; esta é que foi implantada sob os galhos. Cumpre lembrar desse fato.
Em tempo: esta edição traz a estreia de nova seção; na página 3 do suplemento Magazine, a jornalista Paola Severo compartilhará a cada final de semana novidades em séries, filmes e produções, atualizando os leitores e, uma vez mais, ativando a memória cultural.
A todos, bom final de semana e excelente começo de 2020! Que o ano venha com muitas coisas boas para lembrar ao longo da vida.
Publicidade