Vivemos um tempo (e não é de hoje) marcado pela angústia, pela incerteza, e isso vale tanto para a realidade de Brasil quanto de mundo. Simplesmente não conseguimos enxergar perspectivas, e pouco (quase nada) do que vemos em termos de tomada de decisão pública nos convence. É uma era de desencanto. À entrada do século 21 até havia uma certa confiança, uma certa fé em dias melhores. Essa ideia em grande medida nos foi vendida por uma evolução tecnológica e de comunicações sem precedentes. Passada a fase da euforia, de repente nos damos conta do preço: cada vez menos temos controle, inclusive sobre nossa própria vida, quando nos sugeriram que nunca teríamos tido tanto controle. Em lugar do controle, o violento descontrole.
Assim olhamos para o entorno e, desolados, concluímos que estamos reféns do sistema, e que nele nada podemos fazer para alterar o quadro. Justamente aí reside o erro: em concluir que nada pode ser feito. De fato não existe milagre, não existe passe de mágica, e muito menos existem salvadores da pátria. Os que assim se apresentam o mais provável é que sejam charlatões.
O que podemos fazer por nós próprios e por aqueles que queremos bem? Exatamente o que o sistema (as pessoas que têm o poder) não querem que a gente faça. Por exemplo: ler. Governos sugerem que a gente não leia, não se informe, não saiba, não pense. Dizem-nos que as Humanas (comunicação, literatura, história, sociologia, filosofia) são bobagem. A governos convém dizer isso, porque convém que o povo não saiba. A nós convém não acreditar.
Publicidade
Quanto mais um governo desloca recursos das áreas humanas para outras, sejam elas quais forem, mais fica óbvio que é nas Humanas que está a salvação. Por décadas aplica-se nas exatas, e em cultura o mundo vai de mal a pior; mais concentra renda, mais fica inescrupuloso e desigual. Não é preciso ser gênio para juntar dois mais dois (algo bem exato) e desconfiar que o mundo piora justamente quando e onde as Humanas são esvaziadas.
Então, o que mesmo podemos fazer? Ler. Ler muito. Ler tudo, e o tempo todo. Enriquecer-nos por dentro. Adquirir conteúdo, informação, porque isso é formação. Valorizar a escola e a universidade, a literatura, a sociologia, a história e a filosofia; aprender com o passado quando algo foi bom e quando não foi, e analisar por que foi assim. Num mundo que quer nos transformar em máquinas ou calculadoras (e onde inventam máquinas para nos substituir e inclusive sugerem que elas são muito melhores do que nós), o que nos cumpre fazer é mostrar que cérebro artificial as máquinas até podem ter, para o seu frio raciocínio. Mas nós temos coração, e no final das contas é o coração que revela a diferença entre uma pessoa e uma máquina. Lendo nos transformamos, olhamos o mundo com mente aberta, e nos tornamos não seres calculistas, mas que sentem – e assumem as rédeas de seu destino.
Publicidade