Novidades em mídias sociais costumam ser celebradas como avanços, passos adiante rumo ao futuro – como se fosse possível não avançar para a frente, para o futuro, independentemente do que o homem faça ou deixe de fazer. Nessa linha, ao longo dos últimos anos tem-se ouvido à exaustão alguém enunciar: “Venha para a rede!” Como se a rede fosse o único lugar onde valesse a pena viver ou estar. Como se rede fosse futuro. Que futuro?
A rede não é justamente o espaço do cerceamento da liberdade? Se não, vejamos: o peixe que está na rede é um peixe livre? Peixe que está na rede, qual será mesmo o destino dele? Tem independência e autonomia para ir onde bem quiser? Por intuição, por desconfiança, ou por receio de que alguma coisa possa não ser tão saudável ou perfeita quanto os arautos das vantagens da rede propõem, persisti em me esquivar de algum modo de todo espaço em que reparava que havia uma rede sendo espichada, tivesse ela a cor e o formato de trama que tivesse.
Nem sempre, nesse açude cruel que se tornou a sociedade atual, a gente consegue se desvencilhar de todas as redes, de todos os anzóis com minhoquinhas que penduram na frente de nossos por vezes desatentos olhos. Mas se a gente abocanhar tudo o que vier pela frente, e achar que a rede é de dormir, certamente acaba mal.
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Donde se poderia concluir: rede é lugar de peixe. O pescador está sempre em outro lugar. Nem deveria surpreender que no Vale do Silício, a “indústria” das tecnologias de computação nos EUA, chefões proíbam seus filhos de… acessar a rede. Houve quem justificasse: “A gente sabe o que a internet faz com o cérebro.” Eles sabem. É o projeto. Enquanto isso, os peixes nadam, brincam, abocanham, gastam energia. Mas quem se alimenta é sempre o pescador, porque a finalidade de quem cria e mantém peixes jamais é fazê-lo pelo bem do peixe.
Do ambiente natural pode-se aproveitar outra metáfora, outra alegoria, que permite assimilar o que significa estar nas redes. Agentes da conexão, de toda a qualquer conexão, em todo e qualquer suporte, dizem: “Estamos fazendo isso pelo bem de vocês.” É mais ou menos o que dizem para as ovelhas que pastam no cercado: “Estamos cuidando muito bem de vocês.” Só não está dada a informação de que os criadores são os lobos da tecnologia.
Por isso tudo, os fascinados e iludidos peixes que nadam nas redes devem reparar que seu destino não é ser livre. Não é que não haja espaço para nadar. Porém, nadar ali dentro. Quem está fora da rede pode até não ser totalmente livre, mas ao menos não está na rede, o último lugar em que alguém seria livre. E todo aquele que se rende fácil ao convite para entrar no cercado não deve ter dúvida de que, estando no cercado, a última coisa que se pode dizer dele é que está a salvo. Estando na rede ou estando no cercadinho, já muito pouco importa o que alguém pense, porque lá nenhum pensamento mais pode livrar alguém da vala comum.
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