Houve um tempo, nem tão distante, em que era motivo de orgulho alcançar sucesso, não importa em qual área, por suas próprias forças, pela persistência. A denominação self made man, ou self made woman, buscava resumir, no mundo todo, o valor e a importância que se atribuía a uma biografia em que o indivíduo, homem ou mulher, chegava a posição de destaque tendo vencido com determinação – por vezes contando com alguma dose de sorte ou, como se diz, tendo estado no lugar certo na hora certa.
A expressão, aliás, é atribuída a Benjamin Franklin, grande defensor do empreendedorismo. Acabou contaminada por laivos capitalistas, ainda que possa, sim, ser adotada na vida pessoal de cada um. Segue na linha da reflexão de que o trabalho ou o empenho individual dignificam as conquistas, materiais ou intelectuais.
Hoje, salvo engano, parece haver cada vez menos disposição – ainda menos paciência – para trilhar longas jornadas até a realização. O relógio ainda é o mesmo, e passa no mesmo ritmo. Nós é que passamos a correr mais rápido, para não dizer que em atropelo. E num mundo apressado, que quer e prefere tudo para agora, parecem já não caber metas que devam ser cumpridas a passo lento.
Bem, até recentemente as próprias informações não estavam disponíveis de forma tão instantânea. Ter acesso a determinado conteúdo implicava em leitura, pesquisa, persistência, em frequentar bibliotecas e arquivos. O que antes se ficava sabendo e o que precisava ser assimilado em meses ou anos de repente é sobreposto em sites e páginas de busca. Tudo está dado, tudo está disponível (aparentemente). Teria restado muito pouco a fazer?
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Claro que isso é ilusório, e a vida prova que certas coisas só se aprende mesmo com o tempo enquanto passa. Talvez hoje inclusive se necessite de ainda mais energia e disposição para separar o joio do trigo, para não acumular supérfluo em lugar do que de fato alimenta. Há metas que ainda e sempre seguem sendo individuais, intransferíveis.
Neste 2017 que se inicia, talvez fosse de alguma valia rever o conceito do self made man. Para jovens e nem tão jovens assim, sempre há algo a buscar, alcançar. E que bom que isso possa ser feito perseguindo acima de tudo a dignificação de cada conquista.
No lugar do self made man, aquele ser que se construía por seu esforço, fica a nítida impressão de que agora temos o selfie made man. Já não é o que realiza coisas. É o que apenas passeia pelo que outros legaram (obras e feitos artísticos, arquitetônicos, culturais), e se contenta em, ali, tirar uma foto, uma selfie. É o que constrói seu enredo com imagens e registros em cima do legado do passado, e o armazena em páginas de Facebook, Instagram e mídias sociais. Como tudo é fugaz, inclusive essas imagens amanhã terão esgotado seu interesse, e serão substituídas por novas selfies.
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É óbvio que os tempos são outros, e com eles mudam valores e ritmos. Mas alguma coisa sempre tende a ficar, como legado para os que virão. O que ficará desses dias?